Depois de ter escrito sobre os serviços de espionagem de vários países, bem como sobre a Máfia, o prolífico jornalista de investigação Eric Frattini dedica-se a analisar uma intriga homicida com cinco séculos, na sua mais recente obra, intitulada “A Conspiração para Matar Lourenço de Médicis” (Bertrand Editora, 2022).
O cenário é a cidade-Estado de Florença no ano 1478, mas a teia de acontecimentos estende-se pelo tempo e pelo espaço. No cerne da história, está uma família de origens agrícolas que mudou o mundo quando enveredou pela actividade prestamista. Em pouco tempo, os Médicis converteram-se em respeitáveis banqueiros, dominaram as estruturas do poder da república, e expandiram a sua influência além-fronteiras. Nesse percurso ascendente, que incluiu alta política, pequenas intrigas, manobras económicas, corrupção, roubos e assassinatos – nada de invulgar no meio em que se moviam –, beneficiaram do apoio de muitos, mas despertaram o ódio de outros tantos.
Lourenço, O Magnífico, foi educado para governar desde tenra idade. Tornou-se mecenas das artes logo aos 11 anos, fez a primeira viagem oficial a outras cidades italianas aos 14 e entrou na vida pública aos 16, como representante do pai. Tendo demonstrado “grandes dotes de liderança, inteligência e habilidade política para manter o poder da cidade sob o falso manto de uma república”, chegou ao poder com 20 anos e conservou-o até à morte, aos 43. O atentado no qual este livro se centra não foi o primeiro nem o último que enfrentou, mas foi o que teve repercussões mais vastas e sangrentas.
O autor faz uma boa síntese da história dos Médicis e do contexto turbulento da época, descrevendo em seguida quatro grandes conspirações levadas a cabo entre 1453 e 1476 – as quais envolveram oportunistas, vingadores da honra das respectivas famílias, intelectuais idealistas e papas –, até chegar à maior, a “Conspiração dos Pazzi”, de 1478, que deveria consumar-se na catedral de Florença e eliminar não só Lourenço, mas também o seu irmão mais novo, Juliano. Era importante que este não o substituísse e tentasse fazer justiça. Ironicamente, Juliano sofre uma morte atroz, mas Lourenço sobrevive para liderar uma operação implacável de vingança, que durará quase 14 anos, produzirá dezenas de cadáveres e reforçará o seu poder.
A narrativa empolgante deixa transparecer o entusiasmo pela reconstituição de uma época onde a produção de obras de arte intemporais coexistia com o despotismo e as maiores barbaridades. Entre “alianças obscuras”, rivalidades mortíferas e represálias brutais, o autor esforça-se por unir os fios de uma trama complexa, incluindo na obra anexos informativos que nos guiam pela miríade de termos, nomes e datas.
Mesmo antes destes anexos, um pequeno capítulo final conta-nos como, mais de 500 anos depois da grande conjura, já no século XXI, o nome de um dos seus principais organizadores foi revelado, graças a um professor universitário que decifrou cartas antigas, escritas em código e depositadas num arquivo italiano – provando, assim, que vale a pena insistir na investigação de mistérios antigos.
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