“A Coccinela Perfeita” (Saída de Emergência, 2024), de António da Costa Neves, é uma obra singular, começando desde logo pelo próprio narrador (e protagonista): Jacob, um jovem autista, que vive na aldeia alentejana de Azarelhas, com uma tia “boa como o milho” – segundo Fredo, do Quim da Tasca, um dos seus amigos. A Fredo juntam-se outras personagens, com quem Jacob estabelece relações de amizade, como o Engenheiro Isaac, o Dr. Bartolomeu ou o Dr. Milagres.
A narrativa é rica e densa, marcada por uma prosa distintiva, que exige do leitor uma atenção especial, uma vez que Costa Neves proporciona uma imersão completa no universo “especial” de Jacob, inteirando-se por completo da sua atípica personagem e maneira de encarar o mundo.
Servida por uma linguagem fluída onde prevalece a ironia, Coccinella Perfeita é tanto uma “metáfora na definição de um objetivo e de como o alcançar” como um autêntico policial, cheio de casos misteriosos e mortes intrigantes, com acontecimentos passados que se repercutem no futuro. Ao longo da história, Jacob descobre também um talento natural para a arte, acabando por facturar milhões de euros através da pintura. São muitas e variadas as referências a pintores e a obras de arte, que vão de Picasso a Miró, de Salvador Dalí a Velázquez ou Goya.
Apesar do enorme sucesso e fortuna acumulada, Jacob não deixa, no entanto, de fazer os seus truques na tasca para ir ganhando mais alguns trocos, como conseguir dizer quantas bebidas foram servidas de todas as garrafas apenas olhando para o que falta em cada uma, capacidades que a sua condição especial lhe conferiu. Além disso, trabalha ainda na Reserva Natural, principal palco dos mistérios que assolam a comunidade alentejana de Azarelhas. E tudo isto enquanto tenta encontrar a coccinela (joaninha) perfeita.
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