Em “A Carícia do Assassino”, de A. J. Rich (Asa, 2016), entramos na realidade de Morgan Prager, investigadora na área da psicologia forense que se encontra a realizar uma pesquisa em torno das vítimas e da sua capacidade (ou tendência) para atrair predadores.
Morgan acreditava ser capaz de identificar uma nova tipologia de vítima. De provar que mulheres compassivas, com altruísmo e empatia exacerbados, atraíam um certo tipo de predador. Para isso criara diversos perfis online para testar a sua tese, longe de pensar que dessa forma se envolveria, ela própria, com Bennet – ou seria antes Jimmy Gordon? -, um misterioso, intenso e dominador desconhecido. Que ligação teria ele com os perfis de sociopatia e psicopatia que Morgan bem conhecia? Como entender a sua súbita morte e o mistério que a envolvia?
Como bom romance policial que é, “A Carícia do Assassino”, escrito sob pseudónimo pela dupla formada por Amy Hempel e Jill Ciment – ambas professoras universitárias e autoras americanas, premiadas por obras individuais anteriores -, caracteriza-se pela presença bem doseada de crime e investigação e pelo foco que remete para o processo de elucidação do mistério. A essência da narrativa revela-se a busca pela identidade desconhecida e pela exploração dos indicadores deixados ao longo do enredo, com uma boa porção de mistério, investigação, curiosidade e inquietação, tudo doseado de forma muito equilibrada.
Cumprindo uma das principais funções da literatura policial – a demonstração da estranheza do crime -, “A Carícia do Assassino” procura que o criminoso não fique impune, apresentando-o como um ser estranho à ordem social. Ainda assim, na senda do romance policial do séc. XXI, foca o enredo na identidade do criminoso, relegando para segundo plano a investigação propriamente dita. Orienta o leitor para o contacto, ainda que breve, com os transtornos de personalidade, fazendo-o crer que psicopatas ou sociopatas existem e se escondem entre nós, também como pessoas bem-sucedidas, encantadoras, mestres manipuladores dos sentimentos de outras pessoas, com pouca ou nenhuma consideração pelos sentimentos e necessidades dos outros – e, tendencialmente, incapazes de experimentarem emoções em si mesmos.
Para Morgan Prager, perceber o que os atraía foi o desafio. Será que o charme e o carisma de Bennet, a sua personalidade magnética, facilmente atraindo atenção e admiração, fez dele uma vítima? Ou seria o esconderijo de um predador com dificuldade em gerir a impaciência e a contrariedade?
Morgan, por seu turno, há muito que apresentava um padrão de comportamento auto-destrutivo, questionando-se se não seria, ela própria, exactamente o tipo de mulher que andava a estudar: uma mulher cujas ações tinham contribuído para que fosse vitimizada.
O registo é o de um narrador protagonista, com todos os acontecimentos a girarem em torno de si mesmo, numa narrativa impregnada de subjectividade onde o leitor é induzido a partilhar os sentimentos vividos por Morgan Prager, fazendo assim parte da sua história. De leitura compulsiva, situa-nos num cenário de tensão e com contornos inesperados.
Sem Comentários