Em 2018, chegou às livrarias portuguesas a 10ª aventura – “A Menina na Floresta” – protagonizada pelo casal Patrik Hedstrom e Erica Falck, que acabou por descer alguns furos na série onde a sueca Camilla Läckberg navega, quase sempre, entre o espírito cusco de uma Caras e a acutilância fria de um Morgan Dexter. Seguiram-se “Uma Gaiola de Ouro” e “Asas de Prata”, dois políciais assumidamente feministas onde, através de Faye, Lackber recusava o papel tradicional entregue às mulheres, para além de propor desmontar a ideia da Suécia como “o país que, em grandes partes do resto do mundo, era visto como uma sociedade de sonho, sem problemas, sem criminalidade, povoado apenas por loiras altas voluptuosas em biquíni, mobilado pela IKEA e cantado pelos Abba”.
Já este ano, Camilla Lackberg uniu forças a Henrik Fexeus que, de acordo com o CV oferecido na badana deste “A Caixa” (Dom Quixote, 2022), “é um dos oradores mais procurados da Suécia, um mentalista reconhecido mundialmente e um dos mais respeitados especialistas em linguagem e comunicação corporal”. E que tem, na personagem de Vincent Walder, qualquer coisa como um alter-ego – e afagador do ego – literário. Walder que é, neste romance policial, um famoso mentalista, profundo conhecedor da linguagem corporal e do mundo do ilusionismo. Descontando o ilusionismo, mais alter-ego que isto seria difícil.
A história tem um arranque entre o macabro e o sinistro, algo a que Lackberg tão bem habituou os seus leitores: uma mulher é encontrada numa caixa de madeira, com o corpo perfurado por espadas. Um crime que irá ganhar uma continuação, o que faz com que as investigações fiquem a cargo de uma equipa especial constituída por um grupo sui generis, que vai de um tipo engatatão – “com um bronzeado ligeiramente exagerado e medeixas discretas no cabelo” – a um recente pai de gémeos, que aproveita qualquer oportunidade para tirar uma soneca.
A líder do gangue é Mina Dabiri, tremendamente obsessiva com a limpeza e algo paranóica com a porcaria do mundo – o álcool gel é talvez o seu melhor amigo. Será Mina a convidar Vincent Walder, um ilusionista que de tempos a tempos se arrisca a enfiar um prego de 20 cm na mão, como consultor da equipa, mesmo que a desconfiança do grupo seja genérica.
Ainda que o desenlace, à boleia das paralelas viagens no tempo, possa ser algo previsível, “A Caixa” vale sobretudo pela dinâmica criada entre Mina e Vincent, a que se juntam alguns apontamentos de ilusionismo bem catitas. Para aqueles que andam a salivar por um novo capítulo da história de Patrik Hedstrom e Erica Falck, entrar nesta caixa poderá ser uma boa surpresa.
1 Commentário
Já li quase todos os livros de Camilla e A Caixa foi o pior que li. Camilla é genial quando escreve solo mas ao fazer dupla com Fexeus escreveu uma história enfadonha, cansativa e cheia de passagens desnecessárias e aborrecidas. A impressão que se dá é que esses trechos são para avolumar o livro. Cheguei até a metade do livro mas desisti de continuar a ler e nem pretendo comprar o vol.II “A Seita”