Com um novo ano já a rolar, damos a conhecer alguns dos títulos que já chegaram ou que irão chegar às livrarias nacionais nos próximos tempos. Começamos pela nossa muito estimada e sempre refractária Antígona, que já se chegou à frente para os próximos seis meses.
A Eliminação
Rithy Panh com Christophe Bataille
Tradução: Paulo Faria
Género: Autobiografia
Data de publicação: 17 Janeiro
Trinta anos depois da queda do regime de Pol Pot, um sobrevivente tornado cineasta regressa à terra natal para confrontar os seus carrascos. “A Eliminação” (2012) é a autobiografia da infância do aclamado cineasta Rithy Pahn, entrecortada pelos diálogos do realizador na cela de um dos maiores responsáveis pelo genocídio – Duch, director do campo de extermínio S-21, que se esquiva à verdade para reconstruir a história e uma imagem de si. Recusando tanto a ideia de banalidade do mal como o mito de um povo que se exterminara a si próprio, Rithy Panh não renuncia a ouvir, da boca do condenado à sua frente, as palavras que lhe devolvam a humanidade.
Malina
Ingeborg Bachmann
Tradução: Helena Topa
Posfácio: Elfriede Jelinek
Género: Romance
Data de publicação: 21 Fevereiro
No 51.º aniversário da publicação de “Malina” (1971), uma nova tradução deste clássico feminista moderno. Clássico adaptado ao cinema por Werner Schroeter em 1991, com guião de Elfriede Jelinek, e Isabelle Hupert como protagonista, “Malina” é uma das grandes apostas editoriais deste ano da Antígona. Triângulo amoroso numa Viena decadente, viagem aos limites da linguagem e da loucura de uma mulher, mas, sobretudo, um retrato existencial lúcido e poderoso, “Malina” é o único romance de Ingeborg Bachmann, pensado como primeiro volume de uma trilogia interrompida pela morte da autora. Um romance de culto e aclamado, pela «mão da mulher mais inteligente e importante que a Áustria deu ao mundo», segundo Thomas Bernhard.
Betão – Arma de Destruição Maciça do Capitalismo
Anselm Jappe
Tradução: Miguel Serras Pereira
Género: Ensaio
Data de publicação: 7 Março
Uma reflexão que congrega a crítica do capitalismo, da arquitectura citadina e do betão armado por um autor da casa, Anselm Jappe. Partindo do episódio da queda da Ponte Morandi, em Génova, em 2018, como caso exemplar da obsolescência programada, e da premissa de que o betão – um dos materiais mais utilizados no planeta, produzido em quantidades astronómicas e com terríveis consequências ambientais – encarna por excelência a lógica do capitalismo, e traçando também o historial deste material, “Betão” (2020) é um protesto contra a uniformização capitalista do mundo.
Assim lhes fazemos a guerra
Joseph Andras
Tradução: Luís Leitão
Género: Novela
Data de publicação: 21 Março
Depois da publicação de “Dos Nossos Irmãos Feridos”, em 2020, Joseph Andras continua a não dar tréguas na sua mais recente novela e a afirmar-se como uma das vozes mais combatentes e literárias da nova ficção francesa. Tríptico «dedicado aos rebeldes, aos desertores, aos sabotadores e aos pacifistas», no qual se cruzam tempos e causas – a feminista, a animal e a social –, “Assim lhes fazemos a guerra” (2020) conta-nos o destino de um cão em Londres, em 1903, de um macaco na Califórnia, em 1985, e de uma vaca nas Ardenas em 2014. Três histórias, entre muitas, de vidas que tiramos em nome do progresso, e que revelam a bestialidade humana e a passividade e a indiferença de muitos, questionando o domínio do homem sobre os animais, as mulheres e as minorias.
O fim do mundo não terá acontecido
Patrik Ouředník
Tradução: Júlio Henriques
Género: Novela
Data de publicação: 4 Abril
“O fim do mundo não terá acontecido” (2017) apresenta-nos o tradutor Gaspard Boisvert, bisneto de Hitler (um segredo de família) e ex-conselheiro do «presidente norte-americano mais estúpido na história dos Estados Unidos». Em Paris, Boisvert sofre de incontroláveis enervamentos perante aquilo que tem de ouvir ou ler no seu dia-a-dia («a excisão do clítoris é um facto cultural que deve ser respeitado», assevera um conferencista; «nos países democráticos os média são independentes», sustenta uma socióloga; «a democracia ocidental é o derradeiro estádio de uma sociedade avançada», aventa alguém), situação que o conduz a uma forte amnésia, deixando mesmo de saber quem é. Na senda de “Europeana” (2017), Patrik Ouředník, aliando humor à Hasek e ironia à Rabelais, lança-se com unhas e dentes à estupidificação pela linguagem e ao cretinismo ascendente nos nossos dias.
En Avant Dada – Uma história do Dadaísmo
Richard Huelsenbeck
Género: Ensaio
Data de publicação: 4 Abril
Em “En avant Dada” (1920), Richard Huelsenbeck – co-fundador do Cabaret Voltaire em 1916, figura central do dadaísmo, cronista da vanguarda e autor de vários artigos, panfletos e poemas que contribuiriam para a disseminação do espírito DADA – traça a história do movimento dada. Uma história parcial e polémica, por um dos seus principais intervenientes, e, neste sentido, plenamente dadaísta.
As Prisões Estão Obsoletas?
Angela Davis
Tradução: Sadiq Habib
Género: Ensaio
Data de publicação: 18 Abril
Depois da publicação de “A Liberdade é uma Luta Constante”, a Antígona dá à estampa “As Prisões estão Obsoletas?” (2003). Nesta obra, Angela Davis, estudiosa, activista, ícone dos movimentos negro e feminista, debruça-se sobre o conceito de encarceramento como punição, apontando-o como herança do modo de pensar esclavagista nos EUA, nação com a maior população carcerária do mundo, propondo uma transformação radical da forma como a sociedade contempla a punição, o desmantelamento de estruturas que condenam minorias ao encarceramento e a procura de formas alternativas aos actuais sistemas prisionais.
A Fábrica do Absoluto
Karel Čapek
Tradução do checo: Anna Almeida
Ilustrações: Josef Čapek
Nota prévia: Mário de Carvalho
Género: Romance
Data de publicação: 9 Maio
Quando, na senda do progresso, o mundo assiste à descoberta de um engenho capaz de produzir energia ilimitada por tuta-e-meia, poucos adivinhariam que esta maravilha moderna teria um grave efeito secundário: a libertação do Absoluto, a essência espiritual contida em toda a matéria, que converte todos os seres – dos mais mundanos aos levianos – em fervorosos fanáticos religiosos e nacionalistas convictos. Rapidamente o planeta vê a sua população transformada em multidões que ora fazem curas milagrosas, ora caminham sobre as águas e que em breve querem converter por todos os meios as nações vizinhas à sua verdade, indiscutivelmente a suprema e a melhor, desencadeando uma inevitável guerra global. “A Fábrica do Absoluto” (1922), sátira brilhante e premonitória que não ganhou uma ruga, é agora publicada em tradução directa do checo, com ilustrações do irmão do autor, retiradas da edição original, e prefaciada por Mário de Carvalho.
As Convidadas
Silvina Ocampo
Tradução: Guilherme Pires
Género: Contos
Data de publicação: 23 Maio
Depois da publicação d’”A Fúria e Outros Contos”, a Antígona prossegue a edição de obras-chave de Silvina Ocampo, praticamente inédita em Portugal até 2021. Obra de maturidade e um dos livros mais aplaudidos da autora, “As Convidadas” (1961) reúne, no bom estilo ocampiano, contos e relatos inquietantes sobre temas como a infância, o amor e a loucura, entre os quais «O Diário de Porfíria» e o conto que dá nome à colectânea.
Afrotopia
Felwine Sarr
Tradução: Marta Lança
Género: Ensaio
Data de publicação: 20 Junho
“Afrotopia” (2016) é um apelo convincente e uma reflexão importante sobre a necessidade de reinvenção e autodescoberta de um continente no século XXI: África, com trilhos a percorrer que não os impostos pela economia global. O académico, filósofo e músico Felwine Sarr conduz o leitor numa viagem por este continente – dos valores e tradições profundamente enraizados às filosofias comunitárias e ao seu rico universo mitológico –, revelando os contornos de uma africanidade contemporânea e incitando à valorização desta consciência colectiva.
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