Em jeito de apresentação, Francisco Guedes, director da caixa “12 Catorze” (Húmus, 2020), explica que a coisa surgiu como quem não a quer, numa soalhenta tarde caminhense, estando quatro amigos em amena cavaqueira sobre literatura. “12 Catorze é uma colecção que pretende ser uma via aberta para a cultura literária nas suas variadas formas: da poesia ao ensaio passando pelo teatro e pela ficção; via também aberta para autores em início de carreira quer para aqueles cuja carreira é já um longo caminho”.
O resultado: publicações em pequeno formato, daquelas que verdadeiramente apetece colocar no bolso, na mão, na pochete, na memória (se quisermos), ao melhor género do livro objecto, sem que qualquer sentido pejorativo lhe esteja associado. O livro que não se conhece, que capta a atenção pela singularidade do formato, pela audácia da simplicidade de uma capa lisa, sem imagens impactantes ou letras cintilantes, como poucos ousam hoje em dia. O livro que respeita o leitor convidando-o a dar o que tem disponível – curiosidade, tempo q.b. e abertura de horizonte para receber a audácia dos autores e dos editores.
Concretizemos: estamos perante 3 livros que se apresentam em separado ou que podem chegar-nos numa simpática caixa, como uma segunda veste que os une: o 1º da colecção chama-se “Vistas Aéreas”, de Abel Neves, 8 poemas, 3 textos sobre teatro, 2 peças de teatro e 4 textos de ficção narrativa, ao género versão compacta deste já experiente autor transmontano, com obra publicada em peças de teatro, romance e poesia; o 2º livro é “Quase nada, Defesa e interpretação de Robert Walser”, do editor, dramaturgo e professor universitário do Porto Pedro Sobrado – a reprodução de um ensaio que conheceu a sua primeira versão em 2003, no nº 32 da Revista de Comunicação e Linguagens, à data com o título “No covil com Robert Walser”; e, last but not least, o 3º – “A foca não corta o queijo”, de João Gesta, um leixonense com provas dadas na vida e na literatura, entre outras, a publicação de ficção, organização de colectâneas poéticas e a direcção de revistas literárias.
Mais do que ousar a sinopse de qualquer um destes 3 livros, o desafio é transmitir a gratidão pela audácia do formato que, em vários momentos, transforma o minimalismo aparente em apogeu criativo. Assim consigam as mentes mais ortodoxas alcançar o alimento para a substância que a aparente parca dimensão faz supor.
Sem Comentários