Aos 30 anos, Catarina Sobral é hoje uma das mais entusiasmantes ilustradoras portuguesas. Licenciada em Design na Universidade de Aveiro, tem também um mestrado na área de Ilustração na Escola Superior de Educação e Ciências de Lisboa. Pelo meio – e em regime de Erasmus – passou pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona.
Em 2014, o mais importante palco de negócio da edição de livros para crianças e jovens – a Feira de Bolonha – atribui-lhe 21 mil euros pelo seu trabalho em “O Meu Avô” (Orfeu Negro), considerando-a a melhor ilustradora europeia com menos de 35 anos, isto entre 41 finalistas. O prémio incluiu ainda ter tido o livro publicado pela Fundácion SM, uma editora espanhola com grande projecção no Brasil, Chile, Colômbia e Peru.
Num espaço de cinco anos publicou livros para todos os gostos, entre títulos lançados em nome próprio e ilustrações para livros de outros autores, usando técnicas e processos diferentes que tornam, cada um dos seus livros, num objecto de colecção para os amantes da literatura infantil – um universo que, no caso de Catarina Sobral, se estende a todas as idades.
O Deus Me Livro colocou algumas questões à autora e ilustradora portuguesa, uma das convidadas da Ilustrarte 2016, exposição que estará patente no alfacinha Museu de Electricidade até ao dia 17 de Abril deste ano.
Dirias que o design foi um “tiro ao lado” fundamental – e muito certeiro – na tua carreira de ilustradora?
Sim.
Pergunto-te isto porque os teus livros, longe das “simples” ilustrações, apresentam técnicas e cuidados que se estendem da folha branca à pós-produção em gráfica. Pensas neles como um objecto por inteiro quando começas a criar uma história?
Quando começo a desenhar, sim. Às vezes a história já existe, mas quando decido o formato, a técnica, as cores, estou a pensar no objecto final.
Colagens e monotipia no “Greve”. Tinta de óleo, lápis de cera e lápis normal no “Achimpa”. Tinta acrílica sobre acetatos a fazer lembrar a serigrafia em “O meu avô”. Como decides que técnica usar em cada livro e quais são aquelas com que preferes trabalhar?
Experimentando. Quando estou a começar um livro posso testar vários materiais até me decidir pela técnica final. Às vezes é a primeira que tento, outras vezes o processo é demorado. Gosto sobretudo de materiais riscadores, quase nunca uso pincel. N’“O meu avô” usei acrílicos, mas só porque depois o fui retirar com um x-acto, como se estivesse a escavar uma placa de linóleo.
Apesar de o teu primeiro livro ter sido publicado há apenas 5 anos, desde então já lançaste álbuns suficientes para encher uma prateleira quase de uma ponta à outra. Aplica-se aqui a teoria de que o primeiro é sempre o mais difícil?
Sim, foi o mais difícil.
Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Jacques Tati, Édouard Manet e Andy Warhol. Encontramos todos eles mais ou menos escondidos em “O meu avô”, o livro que te valeu teres sido considerada a melhor ilustradora com menos de 35 anos na prestigiada Feira de Bolonha. São parte do teu percurso cultural enquanto leitora e apreciadora de arte? Com que influências cresceste e te formaste?
O Warhol não foi deliberado, os outros sim, são influências no meu trabalho. A maioria delas descobri, não cresceram comigo. Posso dizer que nos meus livros há ainda Picasso, Kosuth, Joyce, Dinis Machado, Rilke, Pancho Guedes…
Já ilustraste um livro de Javier Sobrino para a Kalandraka, bem como um de Tatiana Belinky para a brasileira Editora 34. Quando te ouvi falar num encontro para a criação para a infância há uns anos, fiquei com a ideia de que não terias tirado o mesmo prazer do que aquele que retiras com os teus livros publicados em nome próprio. É um constrangimento ter de refrear a criatividade e a vontade de mudança?
Eu gosto de constrangimentos, sou até bastante sistemática a preparar um livro. A questão não é tanto a liberdade criativa mas a autoria. Um livro que eu escreva é mais pessoal. Por mais que eu goste de um texto e o interprete e transforme contando-o com o meu timbre, essa expressão nunca me reflecte tão bem como um livro que surge, antes de mais nada, de uma vontade própria.
Se tivesses de aconselhar um livro teu a alguém que estivesse à procura de uma prenda para uma criança, qual escolherias?
“O Meu Avô”.
O que poderemos esperar da Catarina Sobral para 2016?
Dois livros.
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