A partir duma viagem realizada em 1991, José Amaro Dionísio escreveu um relato tortuoso e breve sobre a realidade vivida na Amazónia Brasileira, um pouco um espelho do Brasil de então e que, talvez, não esteja assim tão distante dos tempos actuais.
A ideia de “Vidas Caídas” (Companhia das Ilhas, 2015) partiu de reconstituir o itinerário traçado 200 anos atrás pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, viajando durante cerca de dois meses por uma zona fustigada pelo extermínio das populações indígenas, pelas queimadas e desmatamentos sem controlo, pela crescente poluição e depredação da vasta riqueza genética.
O autor insinua, desde o início, que os motivos e meios utilizados serviram de alguma forma de fachada para objectivos menos nobres, se bem que alguns dos presentes na dita expedição acabaram sendo considerados personas non gratas, graças ao cumprimento dos propósitos que os levaram até ali.
José Amaro Dionísio não se coíbe, neste Diário de um Repórter na Amazónia – o sub-título do livro -, de apontar o dedo ao jornalismo que se pratica por terras Lusas, vendido a interesses menos dignos, descentrado sobretudo daquilo que é a sua missão primordial.
Conforme avançamos, vamos sendo «amassados» pela dura realidade que nos é apresentada e que, não sendo propriamente novidade, nos atinge sempre em pontos distintos face ao relato que sentimos ser genuíno e que teve génese nessa zona cobiçada pelas riquezas naturais, onde a maioria vive na pobreza e na precariedade de meios.
«A tragédia da Amazónia é que todo o mundo fala dela mas ninguém faz nada por ela. Pior: Fala-se dela para esconder o mal que se lhe faz». Estas palavras de Dante Teixeira (Director do Museu Nacional do Rio De Janeiro) são citadas pelo autor em jeito de resenha ao que tem sido o interesse da comunidade internacional pelo que ali se passa. São, no fundo, a tradução dos sentimentos de quem é confrontado com imagens duras de extermínio da vida selvagem nas suas mais variadas formas.
Sentimentos de impotência à parte, ler “Vidas caídas” fará parte de um processo de consciencialização natural, de partilhar um olhar imerso pela dureza duma verdade que nos verga – quanto mais não seja pela percepção de que tudo vai ficando na mesma.
Sem Comentários