Se há debate que tem, em anos recentes, inflamado a nação que nutre pelo néctar dos deuses e seus derivados – familiares ou simplesmente amigos – uma paixão desmedida, ele é certamente o do Gin. Quando há coisa de alguns anos se ia a um bar e se pedia um gin tónico, o que tendia a aparecer em cima do balcão depois do pedido era, geralmente, o mesmo em todos os lugares: um copo com gelo, gin e água tónica, com a proporção de 1 parte de gin para 4 ou 5 de água tónica. Alguns ainda juntavam a rodela de limão para conferir algum exotismo, mas a sobriedade e a descrição eram as caraterísticas maiores desta bebida. Até que, de repente, tudo mudou, tendo o gin crescido até se ter tornado, muitas vezes, num imenso aquário ao qual faltam apenas uns peixinhos dourados, conferindo um ambiente marítimo ao nível de um pequeno Oceanário.
Da autoria de Miguel Somsen e Gonçalo Villaverde, “Vamos Fazer Isto Em Casa” (Casa das Letras, 2015) está apontado aos apreciadores do gin em estado impuro, mesclado, cruzado e misturado com todo o tipo de experiências para lá da água tónica. São 76 gins tónicos os que se servem neste bar impresso – alguns de natureza mais clássica -, a que se juntam 52 cocktails.
Neste livro, o foco recai naqueles que fazem da mixologia e da criação líquida o seu modo de vida: os bartenders. Cada um dos profissionais que surge nestas páginas foi convidado a fazer um cocktail que, por muito elaborado que aparentasse ser, pudesse ser replicado em casa por um leitor não muito dado às artes do shaker, seguindo a máxima do tente fazer isto em casa.
Após uma introdução ao que será de facto um cocktail, e onde os bartenders são apresentados como os messias que irão «fazer a transição pacífica do gin para os destilados premium que aí vêm», dedica-se o primeiro capítulo ao gin tónico de assinatura, que parte do gin tónico clássico para alguns pequenos acrescentos, tais como paus de canela, compota de laranja ou espuma de lima.
Parte-se depois para um capítulo dedicado à interpretação de um cocktail de gin, subindo-se o padrão de exigência e avançando para um gin «fora dos paradigmas dos gins tónicos essenciais» – o modo aquário, se quiserem. É aqui que surgem cocktails como Long Island Ice Tea, Basil Smash, Brumble ou Vesper Martini.
Foi ainda dada carta-branca a alguns bartenders para partilharem um cocktail de assinatura, fora da área de conforto do gin, que poderia desenfreadamente usar rum, vodka, tequila ou outro qualquer destilado, surgindo alguns exemplares que dificilmente poderão ser copiados em casa.
A parte final do livro está a cargo da Gin Lovers, o projecto que desde 2012 fez do gin uma bebida com múltiplas variantes. Cada cocktail apresentado parte de uma questão prévia, que poderá ser tão estranha, sci-fi, ou informal quanto “O que hei-de fazer com este gin francês cujo principal é o quinino?” ou “O que hei-de fazer com este gin clássico que inclui dois tipos de chá?”.
Há ainda uma lista de bares, onde os mais impacientes ou desajeitados poderão provar um dos gins ou cocktails apresentados no livro sem se darem ao trabalho da réplica. Tónico, servido em coktails ou apresentado em modo aquário ou com cenas, os apreciadores de gin e da sua experimentação encontrarão aqui um motivo para convidar os amigos, fazer a festa e apanhar as canas quando tudo terminar. Isto se a ressaca não fizer das suas.
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