• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Uma Morte Impossível, Porto Editora, Ian Rankin
Crítica, Mil Folhas 0

“Uma Morte Impossível” | Ian Rankin

Por Luísa Silvestre Ferreira · Em 08/06/2015

Com a chegada do calor e das férias, muitos são os leitores que procuram um livro perfeito para os dias de preguiça e sol. Os policiais costumam ser uma boa opção e, quanto a Ian Rankin, é um autor que pode ser considerado um valor seguro para quem quer um romance que ofereça entretenimento de qualidade. “Uma Morte Impossível” (Porto Editora, 2015) corresponde a estes critérios, sendo altamente recomendável para os apreciadores do policial – e não só – e não apenas como leitura de verão.

Trata-se de um romance em lume brando, o que pode parecer uma apreciação envenenada, mas não é de todo o caso. A história não é propriamente inovadora – falamos de um policial, alguém tem de morrer e alguém tem de investigar –, mas é na forma como está construída que reside a sua originalidade. Malcolm Fox é um inspetor dos Assuntos Internos, chamado para investigar um caso aparentemente simples de má conduta por parte de quatro colegas. Porém, um assassínio vem colocar tudo de pernas para o ar, e o inspetor vê-se envolvido numa “escavação arqueológica criminal” com espiões, terroristas e rebeldes independentistas à mistura. Cabe aqui uma menção especial às várias observações feitas ao longo do romance para a questão da independência da Escócia, sobretudo se tivermos em conta o recente referendo e o seu resultado.

Mas qual é o verdadeiro motor de “Uma Morte Impossível”? A narrativa envolvente, urdida com uma competência e uma solidez inegáveis? A viagem ao passado até aos anos 80, tempos conturbados na Escócia? O mistério intrincado que queremos ver resolvido e que nos deixa intrigados e agarrados ao romance? Sim, tudo isso, mas acima de tudo o protagonista, Malcolm Fox.

Um policial precisa de um protagonista marcante que conquiste a nossa admiração ou empatia, e o Inspetor Fox preenche essas duas casinhas. Mas não se fica por aí. Ian Rankin constrói uma personagem extremamente sólida e profunda, diferente de Rebus, que os fãs do autor tão bem conhecem, mas não menos interessante. É uma personagem à qual está associada uma tensão permanente devido ao departamento em que trabalha; pertencer aos Assuntos Internos envolve, necessariamente, ser detestado e desprezado. Há igualmente a ideia de que as investigações conduzidas por Fox, além de apenas prejudicarem os colegas de profissão, não são trabalho policial sério e producente.

Uma Morte Impossível, Porto Editora, Ian RankinUnido à sua vida pessoal, todo este cenário contribui para que Fox seja um protagonista complexo e interessante. Não é o estereótipo do polícia destroçado e autodestrutivo a que tantos recorrem, não é o homem exagerado, desbocado, suicida ou descontrolado que surge em tantos policiais e que nos faz pensar: «Como é possível fazer uma série de livros com uma personagem que, se formos realistas, devia ter morrido ou sido internado logo no primeiro?» Talvez seja aí que resida o verdadeiro encanto de Fox: é ponderado, tem dúvidas, é corajoso mas não demasiado destemido, tem os seus problemas pessoais mas faz por resolvê-los de uma forma equilibrada. Esta normalidade torna-o mais próximo dos meros mortais e, apesar de ter qualidades que o distinguem e que fazem dele um inspetor sagaz e digno de protagonizar um romance, é mais credível do que muitos outros.

E, se aliarmos esta personagem tão bem construída ao tal fator de lume brando, temos um romance que agarra o leitor e que oferece uma leitura compulsiva. O facto de a história se desenvolver a um passo menos acelerado cria uma tensão crescente e alimenta a curiosidade do leitor, que se estenderá até ao emocionante desfecho.

Ian RankinPorto EditoraUma Morte Impossível

Luísa Silvestre Ferreira

A minha imagem de perfil é uma ilustração de Solus, um artista de rua de Dublin, Irlanda.

Pode Gostar de

  • Uzumaki, Deus Me Livro, Crítica, Devir, Junji Ito, Mil Folhas

    “Uzumaki” | Junji Ito

  • Deus Me Livro, Crítica, Fábula, Lendas das Estrelas, Mitologia e Sabedoria do Mundo, Mitologia e Sabedoria dos Céus, Claire Cock-Starkey, Mil Folhas

    “Lendas das Estrelas: Mitologia e Sabedoria dos Céus + Mitologia e Sabedoria do Mundo” | Claire Cock-Starkey

  • Marcador, Deus Me Livro, Crítica, Império de Tempestades, Torre da Alvorada, Sarah J. Maas, Mil Folhas

    “Império de Tempestades” + “Torre da Alvorada” | Sarah J. Maas

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Mil Folhas

  • Uzumaki, Deus Me Livro, Crítica, Devir, Junji Ito,

    “Uzumaki” | Junji Ito

    03/06/2025
  • Deus Me Livro, Crítica, Fábula, Lendas das Estrelas, Mitologia e Sabedoria do Mundo, Mitologia e Sabedoria dos Céus, Claire Cock-Starkey,

    “Lendas das Estrelas: Mitologia e Sabedoria dos Céus + Mitologia e Sabedoria do Mundo” | Claire Cock-Starkey

    02/06/2025
  • Marcador, Deus Me Livro, Crítica, Império de Tempestades, Torre da Alvorada, Sarah J. Maas,

    “Império de Tempestades” + “Torre da Alvorada” | Sarah J. Maas

    02/06/2025
  • Boa Noite Punpun 3, Boa Noite Punpun, Inio Asano, Deus Me Livro, Devir, Crítica,

    “Boa Noite, Punpun 3” | Inio Asano

    02/06/2025
  • Eu (Odeio) Adoro Livros, MariaJo Ilustrajo, Deus Me Livro, Fábula, Crítica,

    “Eu (Odeio) Adoro Livros” | MariaJo Ilustrajo

    30/05/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • June 2025
  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto