A história de Robert Kirkman sempre utilizou o apocalipse Zombie como uma forma de desenvolver as relações humanas em condições de sobrevivência extremas. Nesse sentido, “Viver Entre Eles” (Devir, 2015) – o 12º livro da série The Walking Dead – coloca a equipa de Rick numa daquelas situações que parece boa demais para ser verdadeira e que, por isso mesmo, poderá vir a ser uma das mais cruéis e abaladoras mossas dadas nos espíritos, cada vez mais quebrados, dos protagonistas.
Aparentemente, um outro grupo de sobreviventes tem vindo construir e a expandir uma vila que, entre muros, consegue recuperar algum do charme e conforto de tempos cada vez mais distantes. O convite para a integração nesta nova civilização surge logo no início, o problema é que Rick e companhia já passaram por demasiadas tragédias para conseguirem acreditar nesta aparente utopia. Por outro lado, o cansaço e a fome nunca iriam deixar passar esta oportunidade, tratando-se sempre de uma questão de tempo até Rick aceitar o convite e começar a investigar esta nova sociedade, a fim de garantir a segurança dos seus. Independentemente das verdadeiras intenções deste novo grupo, uma outra questão, igualmente importante, coloca-se a dada altura na trama: Será que esta equipa, após tudo o que sofreu, ainda é capaz de retomar uma vida normal? Fará sentido, em tempos tão devastadores, os habitantes desta vila conseguirem abstrair-se da vida no exterior, passando os dias a discutir futilidades ou a queixarem-se quando falta a água quente? Para os protagonistas, a resposta parece ser um óbvio não.
O ritmo narrativo de Kirkman continua em modo de aceleração, nunca caindo em grandes tempos mortos. Este mérito que o autor apresenta na construção de inúmeras aventuras, novas e estimulantes para as suas personagens, acaba por ser também o seu calcanhar de Aquiles. Por vezes é importante parar para respirar e sentir o que se está a passar na acção, dando tempo para determinadas cenas respirarem devidamente, algo que nunca acontece em “The Walking Dead”. Claro que esta é uma característica da série desde a sua origem, por isso, ao 12º volume, quem continua a ser fã destas aventuras não irá ficar minimamente desiludido com este “Viver Entre Eles”, que introduziu uma das histórias mais memoráveis da saga.
No desenho, Charlie Adlard mantém-se o firme parceiro de Kirkman, garantindo o nível de qualidade que lhe conhecemos desde que entrou no projecto, logo no segundo volume. De facto, a série “The Walking Dead” continua igual a si própria, a todos os níveis, o que garante a felicidade dos seus fiéis leitores (mas dificilmente conquistará novos).
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