Inspirada por uma geografia literária onde cabe um lago e, sobretudo, um castelo onde podiam morar juntos Hamlet e Cesariny, a 20|20 apresenta Elsinore, a sua nova chancela. Se a Topseller se tem evidenciado pela publicação desenfreada de best-sellers que se situam maioritariamente entre o thriller e o policial, a Elsinore aponta baterias para vários géneros literários. Só este ano, a nova editora tem prevista a edição de 11 títulos, dos quais dois deles já viram a luz da edição: “Lorde”, de João Gilberto Noll, e “A Eterna Demanda”, de Pearl S. Buck.
“Lorde” é a primeira obra do escritor brasileiro João Gilberto Noll a ser publicada em Portugal – galardoada no Brasil com o Prémio Jabuti, distinção que Noll conquistou por cinco vezes -, que se diz ter sido inspirada nos tempos em que o próprio autor foi escritor residente no londrino King`s College.
A história acompanha os passos de um escritor brasileiro de cinquenta anos que, depois de uma carreira ao mais alto nível, se encontra mergulhado na ruína: financeira, moral e emocional. Quando surge um convite da parte de um misterioso inglês para um emprego numa instituição britânica, aceita-o de bom grado mesmo que a desconfiança o persiga sempre. Afinal de contas, «…apenas teria de trocar minha solidão de Porto Alegre pela de Londres.»
E, se o início o livro parece caminhar para um delírio quase kafkiano – ou beckettiano – sobre a identidade e a sua perda, de um homem que olha para o espelho e se torna vários e que, simultaneamente, parece caminhar para uma incontornável mendicidade, a meio caminho a viagem perde fôlego e transforma-se num périplo pelas fantasias sexuais do protagonista, num acto de escrita quase masturbatório.
Quanto a “A Eterna Demanda”, livro descoberto décadas após a morte de Pearl S. Buck, a qualidade e o nível sobem claramente em flecha, mesmo que, segundo o filho adoptivo de Pearl S. Buck – que escreveu o prefácio –, apresente algumas debilidades.
O livro acompanha a história de um pequeno prodígio desde antes do seu nascimento até à idade adulta, numa tentativa de descobrir os outros, o mundo e, também, a si próprio. Amor, sexualidade, destino, temas universais que atravessam de uma ponta à outra este romance algo ingénuo mas sempre inquieto, dividido entre o ocidente e o oriente, acerca da exploração da identidade e da eterna demanda que nos deveria mover todos os dias nesta curtíssima existência.
Pearl recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1938, quando tinha apenas 46 anos, tendo os críticos achado que, para além da curta idade, a autora escrevia de uma forma muito acessível. O seu legado consiste em quarenta e três romances, vinte e oito livros não ficcionais, duzentos e quarenta e dois contos, trinta e sete livros para crianças, dezoito guiões para cinema e televisão, diversas peças cénicas e musicais, quinhentos e oitenta artigos e ensaio e e milhares de cartaz.
Ainda este mês chegarão às livrarias mais dois títulos: “Escravas do Poder”, de Lydia Cacho – um livro de não-ficção – e Na Presença de Um Palhaço”, de Andrés Barba, apontado como um dos melhores ficcionistas contemporâneos na língua de nuestros hermanos.
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