Para quem for um habitual e dedicado consumidor de séries televisivas como “CSI” , “Investigação Criminal” ou “A Balada de Hill Street”, o primeiro romance da série Sebastian Bergman será certamente um motivo para oferecer aos amigos uma festa literária. Escrito em parceira pelos suecos Michael Hjorth e Hans Rosenfeldt, “Segredos Obscuros” (Suma de Letras, 2015) tem a dinâmica, o ritmo e os (bons) tiques de uma série televisiva que vive do espírito e das rivalidades de uma equipa dedicada a combater o crime, não sendo de espantar que, futuramente, vejamos Bergman e companhia num pequeno ecrã com assinalável regularidade.
Sebastian Bergman é aquilo a que se costuma chamar de homem à deriva, desde que um tsunami lhe levou a mulher e a filha quando passavam férias no continente indiano. Psicólogo de formação, Sebastian era um reputado, empertigado e conflituoso profiler na polícia, bem como um dos grandes especialistas da Suécia em serial killers.
Quando regressa a casa dos pais – ambos mortos – para vender a casa na qual cresceu e que abandonou assim que conseguiu, Sebastian descobre, entre as cartas guardadas em gavetas, que poderá ser pai de uma rapariga que agora deverá ter cerca de trinta anos, não se recordando contudo de quem poderá ser a mãe. Decidido a descobrir o paradeiro da filha, Bergman percebe que para essa complicada missão de rastreamento terá de contar com o apoio e a tecnologia policial, decidindo assim cobrar um favor a um velho amigo para se juntar à investigação de um crime, não revelando contudo o seu maior propósito.
A investigação gira à volta da morte de Roger Eriksson, um rapaz de dezasseis anos encontrado por um jovem grupo de escuteiros com o coração arrancado. Sem saber como tratar de um caso com estas proporções, a polícia de Vasteras, liderada pela carrancuda Hanser, decide recorrer aos melhores, chamando o Departamento de Investigação Criminal para tomar conta das operações.
Quando Sebastian se junta à equipa, regressam os modos bruscos, a ironia extrema e o desprendimento sentimental em relação aos outros, apontando-se o foco maior à escola para meninos bem que Roger frequentava. Escola que, por detrás da aparente estabilidade e bons comportamentos, esconde segredos obscuros.
Com uma escrita eficaz e sólida, “Segredos Obscuros” mistura a acção desenfreada e os detalhes sangrentos com as relações quotidianas entre pessoas, pessoais e profissionais, num thriller em crescendo que oferece um rebuçado depois de um twist de certa forma esperado. E que traz à literatura policial mais um homem amargurado. Seja muito bem-vindo Sebastian Bergman.
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