Asa Larsson já não consegue surpreender ninguém: a qualidade mantém-se inalterada de livro para livro e, para muitos, isso será suficiente. Mas existirá certamente quem possa ter cometido o pecado (quase imperdoável) de nunca ter lido qualquer livro seu e, para esses, será conveniente fazer a apresentação de “Sacrifício a Moloc” (Planeta, 2015), premiado pela academia Sueca como o melhor policial negro em 2012.
A descrição do espaço e do tempo feita por Larsson é sublime, fazendo-nos penetrar e visualizar as cenas com pormenor, em cenários que são por si só ricos. Existem como que duas histórias simultâneas – uma passada e a outra actual -, que irão eventualmente chocar num qualquer ponto ou cruzamento, mas isso é quase imperceptível ou, pelo menos, nunca nos desvia, sentimos sempre estar a acompanhar uma única e pungente narrativa.
«A cidade era como uma silhueta negra contra um céu cinzento-grafite, com os imponentes socalcos cinzentos da montanha da mina, o campanário da câmara municipal que parecia um esqueleto e a igreja de três naves, uma cabana lapona das alturas.»
Voltamos a estar na companhia de Rebecka Martinsson e da inspectora de polícia Anna-Maria Mella. Rebecka é agora procuradora na região de Kurravaara, zona onde um acontecimento macabro e um homicídio sem aparente conexão acabarão por se tornar objecto de investigação.
Martinsson vê-se afastada do caso devido a eventual proximidade pessoal com o mesmo, mas a sua obssessão e determinação levam-na por conta e risco próprios a perseguir o assassino, penetrando numa espiral de mortes que remonta a décadas atrás e, estranhamente, ao âmago da mesma família.
Com referências várias a outras obras e autores, fica a sensação de homenagem prestada pela autora, como que a “fugir” a rótulos mais típicos deste género.
Moloc (ou Moloch no original) é o nome dado a um “deus” antigo, adorado pelos Amonitas por altura de 1900a.c., sendo costume o sacrifício de crianças pelo fogo como prática nos rituais de adoração. Não sendo centrado em referências divinas ou demoníacas, importa salientar este aspecto que, de alguma forma, enquadra a acção deste livro entre a beleza e uma espécie de sentimento de perda ou simples angústia. Sem dúvida, muito mais que um mero thriller policial.
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