Depois de ter feito psicoterapia intensa e caminhado descontraidamente pelos corredores do poder, a Granta Portugal regressa finalmente a Casa (Tinta da China, 2014), num terceiro número que, para lá dos habituais contos e da sessão fotográfica, oferece a novidade de uma fotonovela fotografada a preto e branco.
Por muito diferentes que sejamos uns dos outros, provavelmente todos teremos uma história ou um episódio para contar a partir das casas onde habitámos. Ou, em alternativa, sobre as casas que lemos – e vimos – em livros ou revistas, e que sonhámos um dia poder tomar como nossas.
Entre estreantes, repetentes e importações, o desafio de entrar ou fugir de casa foi aceite e vivido das mais diferentes formas: Alexandra Lucas Coelho fala do corpo como se de uma casa se tratasse, «uma casa que é o seu próprio céu»; Teresa Veiga leva-nos aos corredores da casa-asilo Florzinhas do Campo, que esconde nas gavetas muitos segredos; Valério Romão põe-nos à janela para assistir de perto a uma história de erosão familiar, quando um irmão é posto fora de casa; Murakami fala-nos de um personagem que decide não mais regressar a casa, depois de esta ter sido destruída por uma catástrofe natural; Siri Husvedt oferece-nos um precioso conto sobre a paternidade, entre a comoção e o festim literário histórico; é de Paul Theroux o conto mais sentimental, uma história de amor negro que se lê quase como uma quase confissão e lamento. Mas há mais, muito mais, incluindo o ensaio fotográfico através da lente de Luísa Ferreira, as ilustrações de Alex Gozblau e a fotonovela a duas cores.
Termine-se da mesma forma com que Carlos Vaz Marques decidiu concluir o prefácio a este terceiro número da Granta portuguesa: «Celebremos as casas: casulos de memória onde se guardam ilusões que o tempo desfez, gestos que não se repetirão, fragmentos e ruínas do que fomos. Aquilo que somos». Sejam bem-vindos a casa.
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