Nos tempos que correm, parece haver um dia para tudo. E, se dantes as comemorações pareciam estar confinadas ao Pai, à Mãe, à Criança, à Mulher ou ao Trabalhador, agora também se comemoram os avós, o obrigado, o rim ou – celebrado há coisa de dias – o abraço.
Em relação a este último, foram várias as sugestões apresentadas para passar um dia em grande – incluindo andar metido em abraços do nascer ao pôr-do-sol -, mas provavelmente muita gente – incluindo o Deus Me Livro – terá deixado passar em branco uma das melhores ideias para assinalar este dia: ler – ou oferecer em forma de abraço – “Quero Um Abraço” (Orfeu Negro, 2015), um pequeno e rectangular livro escrito e ilustrado pela italiana Simona Ciraolo.
O Filipe, um pequeno e solitário cacto, «descendia de uma família antiga e ilustre, que gostava de parecer bem e que era sempre muito certinha». Tal como o narrador de Questões de Moral, tema incluído no já mítico “B Fachada É Pra Meninos”, não tem tido uma vida fácil ou adequada à sua criancice: «…foi ensinado a ficar sossegado, a dar o exemplo e a acreditar que um dia iria subir na vida.»
Ainda assim mantém bem definidas as suas prioridades, achando que a sua família só se preocupa com as questões erradas. O que ele quer é trocar os conselhos e as máximas pelas emoções e pelo contacto físico, traduzido na história pela necessidade de um abraço.
Depois de um aperto que acaba com um balão hospitalizado e a família em fúria, Filipe decide partir em busca de um novo lar. O percurso, porém, não se afigura nada fácil, sendo mal recebido por todos aqueles que vai encontrando no caminho. Aprende assim a gostar de estar sozinho, ouvindo música, jogando consola, treinando sudoku e encomendando comida chinesa, fazendo da sua casa – e de si próprio – um muro intransponível. Até que, um dia, a sua solidão se cruza com a solidão alheia.
Uma história ternurenta, preenchida com ilustrações coloridas e sentido de humor, que valeu à autora o Sebastian Walker Prize for Illustration em 2014. E logo no livro de estreia.
Sem Comentários