De repente, um cheiro esquisito espalha-se pela casa, entrando nas narinas da mãe e obrigando-a a tornar-se uma autêntica detetive de odores desagradáveis. Enquanto não descobre o autor daquele pum, a mãe não descansa e o verdadeiro culpado há-de ser apontado.
“Quem deu um pum?” (Porto Editora, 2014) é a pergunta que a mãe, Ana Garcia Martins, faz e a que qualquer um instintivamente responde «Eu não fui.»
O título choca alguns. Faz rir outros. Mas chega que nem uma seta direta ao alvo a quem verdadeiramente interessa: aos mais pequenos, aos mini-leitores que começam a descobrir como é encantador sentar no colo dos pais e ouvir uma história, especialmente quando os faz gargalhar com algo tão simples e tão natural… como um pum.
Os grandes trunfos do livro estão no retrato de um episódio corriqueiro – transformado numa verdadeira aventura -, na linguagem próxima do coloquial e na repetição da narrativa, que faz com que os leitores-bebés acompanhem o percurso da mãe de porta em porta adivinhando, antes de ouvirem, que o pum dali não veio. Página a página, as crianças querem saber quem deu afinal um pum tão mal cheiroso e desdobram-se em hipóteses e ideias.
Ana Garcia Martins estreia-se, assim, na literatura infantil, sem máscaras ou disfarces. Mostra-se tal como é e como se apresenta enquanto Pipoca Mais Doce, naquele que é o blogue mais famoso e mais visitado de Portugal.
O tom irónico e humorístico que todos identificam na Pipoca está presente no livro desde a capa até à contracapa, sente-se no título e na apresentação da coleção, ressalta na história e até nas ilustrações de Rita Duque. O trabalho da ilustradora, cujo nome, meritoriamente, deveria estar mencionado na capa do livro, contribui decisivamente para o produto final. As personagens principais estão retratadas tal qual como os seguidores dos blogues da família Pipoca as conhecem: o cabelo louro da mãe, a barba do pai, os caracóis do Mateus e até as manchas castanhas do cão Manolo. A identificação é imediata, como se os leitores-adultos entrassem diretamente para dentro da casa da Pipoca e família, confraternizassem com todos e, quem sabe, sentissem por lá o cheiro do famoso pum. Com os leitores-adultos vão então as crianças, conquistadas por um livro simples, colorido, de capa almofada e suave ao toque e que, ainda por cima, lhes faz uma pergunta atrevida.
A Coleção Mateus é para continuar. E, então, para as próximas aventuras adivinham-se outras surpresas e terríveis verdades sobre as malandrices e proezas do Mateus e dos bebés de muitas outras mamãs… mesmo daquelas cujos filhos nunca – mas nunca – dão um pum.
2 Commentários
Boa tarde, Andreia!
Dei agora, por um feliz acaso, de caras com este seu artigo. Sou a ilustradora e quero agradecer-lhe as suas palavras tão simpáticas sobre o meu trabalho!
Um abraço,
Rita Duque
É para mim a história mais emgraçado que eu já ouvi,e nunca pensei que uma autora escreveria uma historia sobre pum.