Dr. Seuss está, para a literatura infantil, como Mozart está para a música clássica. Ou, se preferirem, como os Beatles estão para a pop. Nascido em 1904 e assinando no BI como Theodor Seuss Geisel, Dr. Seuss viu os seus livros traduzidos em mais de trinta idiomas, tendo levado para casa uma enormidade de prémios, entre os quais o Caldecott Honors – pelas obras McEllogot`s Pool, If I Ran the Zoo e Bartholomew and the Oobleck, o Prémio Pullitzer e oito doutoramentos honoris causa. Vários trabalhos, baseados em originais seus, ganharam também três Oscars, três Emmys, três Grammys e um Peabody.
Recentemente descoberto e lançado este ano um pouco por todo o globo, “Que amigo levo comigo?” (Booksmile, 2015) é um bom exemplo da carga mítica associada aos livros deste autor. A história gira à volta de dois irmãos – a Kay e o jovem narrador de quem não sabemos o nome -, que vão a uma loja de animais para escolherem um novo amigo. O pai não lhes impôs espécie, cor ou tamanho, apenas uma regra simples mas, vai-se a ver, difícil de seguir: só pode mesmo ser um amigo.
O irmão deixa-se encantar por um cão que “aperta mãos”, enquanto Kate se vai perdendo de amores por uma gata. Porém, à medida que vão circulando pela loja, que parece aumentar de tamanho a cada minuto que passa, cresce também a vontade de levar para casa pelo menos meia dúzia de amigos:
O cachorro?
O gatinho?
A gata?
Ou o cão?
Oh, pá!
Isto não vai
Ser fácil, não.
Enquanto caminham em contra-relógio, a escolha parece ser cada vez mais difícil, e a certa altura sentimos que este par de irmãos irá sair da loja de mãos a abanar, incapazes de tomar uma decisão sobre qual dos amigos irão levar para casa:
Pois, já viste como é
Como dar ao pensamento
O amigo que ele quer?
A história desenrola-se em crescendo, começando tranquilamente pelo observar da montra da loja para, de repente, darmos por nós a olhar para animais imaginários, de quem seria complicado cuidar. Começa-se com grande planos para depois, como uma câmara num travelling ritmado, nos afastarmos para olhar a loja que, de tão longe e imensamente povoada, já começa a parecer uma pequena selva, tudo com uma boa dose de surrealismo à mistura. As ilustrações usam e abusam da cor, sempre com muito dinamismo a que não falta o sentido de humor e muitos sorrisos. No final, Dr. Seuss troca as voltas aos pequenos e grandes leitores, convidando-os à prática da adivinhação. Ou, se quiserem, a fazerem eles próprios a escolha do amigo que os irmãos levam quase em segredo para casa.
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