Há uma expressão bem portuguesa que Charb, cartoonista, jornalista e director da publicação Charlie Hebdo entre 2009 e 2015, se deve fartar de ouvir: a escrever assim deves ter muitos amigos.
De facto, basta ler alguns dos textos presentes em “Pequeno tratado da intolerância” (Bertrand Editora, 2016) para perceber que o espírito mordaz de Charb, tal qual uma fatwa maligna, dispara em praticamente todas as direcções, mostrando um sentido de humor feito de muito sarcasmo e, também, de boa (in)disposição.
Árbitros de futebol, enroladores de charros, lâmpadas de baixa tensão, farmacêuticos com bata, peluches ou mestres do preservativo, ninguém escapa às duas páginas de rebelião de Charb, que termina todas as suas indignações com um parágrafo que começa com “Creio que estará de acordo” e termina com um sempre reverencial “Ámen”. Como nesta, que encerra uma fatwa intitulada “Morte aos ditados populares”: “Creio que estará de acordo, é preciso aplicar o seguinte ditado aos propagadores de ditados:«Àquele que ditados dita, o homem sério deve furar a tripa.» Ámen.”
Um livro que retrata muitas das pequenas e cíclicas coisas que diariamente nos maçam o espírito, e que fará com que se olhe para a vida rotineira com um espírito mais aberto (e o aflorar de um sorriso malicioso).
Sem Comentários