Longe das ameaças do fogo dos autos-de-fé do Terceiro Reich, “Os Empregados” (Antígona, 2015), o estudo dito insurgente de Siegfried Kracauer que se debruça sobre a ascensão de uma então nova classe, chega finalmente às livrarias em bom português.
Publicado originalmente em 1930, este diagnóstico dos testemunhos e das observações da vida económica da Alemanha dos anos 20 tem como objectivo de estudo a tipologia social de assalariados emergente das modificações estruturais, e as consequentes alterações na forma de organização da chamada “empresa moderna”.
Nesta análise-reportagem, os protagonistas desta realidade são-nos revelados através da experiência concreta relatada pelos próprios trabalhadores — de Berlim, onde “a situação dos empregados se manifesta de modo mais evidente” — e da teorização crítica sobre as ânsias e os desejos de uma classe que pecava por um forte desconhecimento de si mesma.
Considerando o impacto dos mesmos no funcionamento da vida pública, o autor põe a nu a existência de escritório destes colarinhos brancos, parentes pobres de uma burguesia endinheirada, que gozam de um estatuto embelezado pelo cariz intelectual dos cargos que operam e que os coloca uns degraus acima dos operários. É com estes que partilham, no entanto, honorários e condições desfavoráveis, que se prolongam pela repetição de tarefas pouco estimulantes e pelas cedências para com o patronato, numa óptica de “salve-se quem puder” equivalente à dos dias que correm.
Descritos com advertência, os contornos desta reestruturação económica e social são-nos apresentados sob o olhar atento e mordaz do escritor. A vida pública como ela era deixara de o ser, a comando das necessidades dos empregados.
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