Muitos são os livros que nos falam da importância de seguirmos os nossos sonhos, mesmo que estes, aos olhos alheios, possam parecer desejos saídos da cabeça de um lunático que poderia bem passar uma temporada no Júlio de Matos.
Seja como for, poucos o terão feito tão entusiasticamente quanto David Almond que, em “O rapaz que nadava com as piranhas” (Editorial Presença, 2014), leva a máxima ao ponto extremo da imaginação, para gáudio de pequenos e grandes leitores que se atirarem a mais um título da colecção Estrela do Mar.
Stanley Potts é um miúdo normal com um tio muito esquisito que, depois de perder o emprego quando o Estaleiro Simpson fecha portas, idealiza um plano incrível: transformar a sua própria habitação numa fábrica de peixe de conserva. Stanley não tem outro remédio senão abandonar a escola para ajudar o tio Ernie que, obcecado pelo peixe, deixa de ser um tipo simpático (palavras de Stanley).
Certo dia chega à cidade uma feira popular e, após uma ameaça de greve forçada pela tia, Stanley consegue um dia de folga e alguns trocados para se ir divertir, gozando o seu aniversário como um rapaz normal. Depois de algumas voltas ao acaso fica fascinado diante de uma barraca que apresenta maravilhosos peixinhos dourados dentro de sacos de plástico com água. Incapaz de regressar a casa dos tios, o pequeno rapaz decide aceitar o convite de Dostoiévski para trabalhar na barraca, juntamente com a sua filha Nitasha, rapariga que parece não nutrir grande simpatia por Stanley.
Enquanto o tio Ernie se vê com a ASAE lá do sítio à perna, Stanley conhece Pancho Pirelli, o famoso homem – é quase um mito – que nada com as piranhas e que vê, neste pequeno rapaz, um aprendiz com grande potencial, que poderá substituí-lo no tanque nadando com estes pequenos, esfomeados e letais animais. Mas estará Stanley à altura do desafio?
Com ilustrações magníficas do magnífico Oliver Jeffers, “O rapaz que nadava com as piranhas” é um livro irreverente sobre a individualidade, sobre os caminhos que escolhemos para alcançar a felicidade própria e que, entre o confronto familiar e o saudável embuste, podem levar à estrada certa.
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