Vive na cidade de Madrid, onde trabalha como ilustradora e professora de artes plásticas. Nas suas obras, gosta de experimentar diversas técnicas e formatos, como livros pop-up, ao bom estilo de um (não musical) acordeão ou recorrendo a recortes. No caso de “O meu irmão invisível” (Orfeu Negro, 2015), Ana Pez esticou ainda mais a corda da experimentação, com um livro que nos oferece a realidade como nós a conhecemos e, num lugar mais escondido – mas nem por isso perdido – de nós, uma realidade paralela sem dúvida mais entusiasmante.
“O meu irmão acha que é invisível”, conta-nos a jovem narradora desta história, olhando para o seu irmão mais pequeno que, a pés juntos – e de cabeça tapada -, diz ter inventado a máquina da invisibilidade. Uma invenção que, como muitas outras invenções ou teorias – lembrem-se da maçã e da cabeça de Newton -, surgiu por um feliz acaso.
No dia em que o pequeno pirralho saiu de casa para experimentar a nova máquina, deu-se conta de que conseguia ver coisas que os outros não podiam – ou não conseguiam: animais ferozes, um dragão que cospia fogo e cinzas, robots e astronautas. O que vale é que, quando as coisas começaram verdadeiramente a aquecer, a sua irmã estava por perto. Porque afinal, “quando temos um irmão invisível, é preciso ficar de olho nele, pois, muitas vezes, temos de o salvar.”
Este não é, porém, um livro normal. Ao virarmos a capa damos de caras com dois grandes olhos, que vigiam de perto um pequeno envelope onde descansam uns estranhos óculos de lentes vermelhas. As instruções, essas, estão na contracapa: retirar os óculos; pôr os óculos mágicos; ler o livro; recomeçar a leitura mas agora sem óculos. Desta forma, poderemos ver a realidade como ela é e, também, o mundo como um dia já o conhecemos.
Um bonito e afinado hino à infância que nos recorda que a imaginação, que tende a esfumar-se à medida que vamos crescendo, é de facto a melhor das companhias. Uma amiga para a vida que merece que fiquemos de olho nela, pois muitas vezes tem o poder de nos salvar da mal temperada realidade.
O livro recebeu uma Menção Especial na Feira do Livro de Bolonha 2015 e, em 2014, a Menção Honrosa do V Catálogo Iberoamericano de Ilustração.
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