Já vai sendo difícil arranjar adjectivos para falar de Jorge Luis Borges, escritor que, nos cerca de quinze meses de existência do Deus Me Livro, ganhou já um lugar cativo, e logo na bancada central. Ainda que não tenha levado para casa o Prémio Nobel ou escrito qualquer romance – o mais aproximado terá sido “História Universal da Infâmia” -, Borges deixou ao mundo alguns dos mais brilhantes livros, primando sempre por uma escrita que reúne, em doses praticamente iguais, uma inigualável capacidade de síntese, o perfume da poesia, um saber para lá do enciclopédico e uma imaginação que parece estar fora do alcance humano.
Em “O Livro dos Seres Imaginários” (Quetzal, 2015 – reedição; original de 1995), Borges vai beber a várias fontes para nos oferecer uma enciclopédia de pouco mais de duzentas páginas onde estão reunidos, ainda que de forma incompleta – “Um livro desta índole é necessariamente incompleto; cada nova edição é o núcleo de edições futuras, que podem multiplicar-se até ao infinito” (do prólogo) -, os seres fantásticos que têm habitado a vida e a literatura: “O título deste livro justificaria a inclusão do príncipe Hamlet, do ponto, da linha, da superfície, do hipercubo, de todas as palavras genéricas, e talvez de cada um de nós e da divindade. Em suma, quase do Universo. No entanto, limitámo-nos ao que a locução <seres imaginários> sugere, compilámos um manual das entidades estranhas que a fantasia dos homens gerou ao longo do tempo e do espaço” (também do prólogo).
E que tipo de seres encontrará o leitor nestas páginas? Pois bem, há-os para todos os gostos: animais sonhados por gente como Poe, C.S. Lewis ou Kafka – deste último fala-se de “…um animal com uma grande cauda, de muitos metros de comprimento, parecida com a da raposa“; animais esféricos, animais dos espelhos – antevê-se aqui a revolta dos reflexos servis – ou animais metafísicos – entre os quais a estátua sensível e o animal hipotético; o Aplanador, que se alimenta de ervas e raízes, não tem inimigos – excepção feita aos insectos -, e é parecido com um elefante apesar de ter dez vezes o tamanho deste; o Asno de Três Patas, que tem três cascos, seis olhos, nove bocas, duas orelhas e um chifre; o Beemot, “…uma amplificação do elefante ou do hipopótamo, ou uma versão incorrecta e assustada desses dois animais“, o Catópleba, uma “fera de tamanho médio e andar preguiçoso“.
Há também outros mais conhecidos, como a Ave Fénix, o Cérbero, o Centauro, Dragões ou Elfos, num livro que apresenta referências e fontes que vão da Bíblia aos irmãos Grimm, das Mil e Uma Noites a Plínio, de Robert Burton a Fraser. Um bestiário moderno que, através da genialidade de Borges, nos mostra alguns dos maiores sonhos, medos e desejos dos homens. Aconteça o que acontecer, teremos sempre Borges.
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