Para aqueles que vão acompanhando a vida de Nuno Markl, há um facto que é por demais evidente: mora aqui um homem com muita rede. Seja no facebook ou nas muitas vezes em que surge em directo, Markl parece estar ligado à rede 24 horas por dia, num daqueles casos em que, aproveitando a sabedoria popular, a vida parece ter o aspecto de um livro aberto.
Em 1997, porém, estávamos a anos-luz do frenesim tecnológico por que muito boa gente se deixou enfeitiçar: a Internet começava timidamente a entrar na casa dos portugueses e, quanto ao facebook, ao youtube e às transmissões em directo, nem ponta de sinal. Foi contudo neste ano que Nuno Markl publicou a sua obra mais emblemática e celebrada: “O Homem que Mordeu o Cão”.
Quinze anos depois da efeméride, a Objectiva assinala com pompa e circunstância o nascimento do homem que desenvolveu apetites canídeos, numa edição que chega às livrarias na sempre de elogiar capa dura e um título verdadadeiramente festivo: “O Homem que Mordeu o Cão – Os Clássicos” (Objectiva, 2015).
O livro reúne, para além de textos inéditos, alguns dos clássicos lidos aos microfones da rádio: a mirabolante história do assentador de tijolos; os alienígenas desbloqueadores de conversa; as agruras e os dilemas dos pensionistas; ou uma expressão que ficou na cabeça de quem, por esta altura, se alimentava alarvemente de ondas hertzianas: enormes seios!
Ao reler os seus textos com uma década e meia, o Markl de 2015 não resistiu a meter-se com o Markl de 1997, daí resultando várias notas de rodapé que dão uma nova vida a quem relê estes verdadeiros clássicos – ou então confundindo, no bom sentido, quem a eles se atira pela primeira vez.
Há também as já indispensáveis FAQ’s e um manual de instruções para a leitura, num livro que, apesar de ficar muito bem em qualquer estante, continua a cumprir com distinção uma das suas funcionalidades primárias – e logo agora em capa dura: “equilibrar aquela mesinha de café lá de casa que está sempre bamba.” Cheira a clássico.
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