Na introdução – em jeito de agradecimento – de “O grilo muito silencioso” (Kalandraka, 2015), Eric Carle revela-nos alguns factos muito interessantes sobre esta espécie. Das quatro mil espécies de grilos que habitam o planeta, há de tudo um pouco no que diz respeito ao alojamento: se uns vivem debaixo da terra e outros à superfície, há outros preferem escolher, como casa, arbustos, árvores ou até mesmo a água.
O mais curioso, porém, tem a ver com as diferenças entre o macho e a fêmea – antes que perguntem, não tem nada a ver com quem arruma a casa ou cozinha. É que, se ambos possuem a dádiva da edição, apenas o macho pode emitir sons ao esfregar as asas, sons que, para alguns, soam como os acordes de uma canção.
Nesta história, porém, temos um grilo diferente dos outros grilos. Por muito que o bicho se esforce, não há meio de conseguir emitir o tão esperado “cri-cri”, nem mesmo com a ajuda dos outros animais com que se vai cruzando durante o seu percurso, seja a libélula, o louva-a-deus ou a cigarra. Até que, inesperadamente, um outro e familiar animal surge no seu caminho.
Com uma estrutura a nível literário marcada pela repetição, encontramos neste livro alguns dos traços característicos de outras obras de Eric Carle: uma overdose – sem mazelas – de cor, a natureza como o centro, objectos e animais expressivos e de grande formato, a utilização da colagem como técnica artística ou a lenta passagem do tempo, aqui visível quando o dia dá lugar à noite e a magia, de repente, acontece. Com a surpresa final reservada ao pequeno leitor, o livro, tal como o grilo, irá viver uma pequena epifania, transformando-se em muito mais do que uma história com ilustrações.
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