Não é que fosse propriamente um desconhecido mas, desde que as suas Crónicas do Gelo e do Fogo foram adaptadas ao pequeno ecrã como Guerra dos Tronos, George R. R. Martin tornou-se um dos escritores mais famosos do planeta.
Porém, antes de se dedicar a livros de grande dimensão – e sobretudo volume -, Martin experimentou por diversas vezes a arte do conto, tendo escrito histórias para revistas, colectâneas e outras que foram ficando – algumas ainda lá devem estar – na gaveta antes de verem a luz da edição graças à fama posterior.
Anteriormente publicado em Portugal pela Saída de Emergência no livro “O Dragão de Inverno e Outras Histórias”, “O Dragão de Gelo” (Gailivro, 2015) ganha agora direito a edição própria e ilustrada por Luis Royo, artista espanhol conhecido pelas suas ilustrações de fantasia, num traço a preto e branco que, a certas alturas, desperta a recordação do inimitável Gustave Doré.
Adara é uma adolescente, filha do Inverno, do silêncio e do gelo. É nesta estação do ano, quando o mundo arrefece e se recolhe dentro de portas, que o dragão de gelo aparece, levando Adara a voar sobre planícies e lugares cobertos de branco.
Nascida do parto de um inverno infernal a que a mãe não resistiu, Adara ficou com a pele azul-clara e gelada ao toque. Raramente se ria e pouco chorava, conhecendo apenas a felicidade nos dias em que o frio triunfava sobre o tempo. Foi no seu quarto aniversário que tocou pela primeira vez no dragão de gelo e, no quinto, cavalgou-o sem arreios ou chicote.
No tempo presente, correm rumores de uma guerra imensa, com a estrada do rei deserta e onde apenas se avistam homens queimados ou outros deixados para trás, com membros decepados e abandonados à sua má sorte. Apesar dos conselhos de Hal – tio de Adara -, o pai da rapariga de gelo recusa-se a abandonar a terra onde viveu e na qual cultiva e ganha o seu sustento, tentando prolongar o inevitável. Quando os inimigos se aproximam, Adara terá de fazer uma escolha difícil, alterando irremediavelmente o seu próprio destino.
Uma bonita história sobre o ocaso da adolescência e, também, sobre a dificuldade em fazer escolhas que impliquem deixar algo de nós próprios para trás.
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