Há crianças que têm, dentro de si, uma imaginação que fervilha. É exactamente o caso do menino Andersen que, como o grande inventor que era, andava nada satisfeito com as definições que o dicionário lhe oferecia: sem alma, sem profundidade, sem – por que não dizê-lo – nexo.
Recorrendo à sua capacidade inventiva – e em vez de escrever às editoras a fazer queixa da falta de sensibilidade no que à definição diz respeito -, optou por começar a escrever o seu próprio dicionário, que o entusiasmasse a si bem como aos seus amigos. Nascia assim “O dicionário do menino Andersen” (Planeta Tangerina, 2015) que, de A a Z, oferece uma alma nova a cada palavra.
Neste mergulho no universo infantil, Gonçalo M. Tavares oferece aos mais pequenos uma reinvenção dos conceitos que o dicionário lhes oferece, sempre com a filosofia e um humor muito próprio por perto. Deliciem-se com algumas das definições que podem encontrar neste dicionário: um Acrobata é aquele que “consegue pôr a lei da gravidade numa caixa, fechando-a depois à chave”; o Armário é “o sítio onde perdemos as coisas”; a Banheira não passa de “uma piscina egoísta porque só dá para uma ou duas crianças”; o Galo é um “animal que ainda não foi informado de que já foi inventado o despertador”; o irritante Mosquito é um “animal que está mal sintonizado; já a Zebra, não passa de “um tabuleiro de xadrez mal feito, que ainda por cima se mexe e come. Só prejuízo”.
As ilustrações de Madalena Matoso são um verdadeiro mimo, onde se assiste a um cruzamento entre a técnica e precisão com que desenha objectos, números, casas e todo o tipo de sinalética, sempre com a ideia de um movimento perpétuo a que não faltam os olhares expressivos. E tudo isto recorrendo a uma palete de cores mínimas: o preto, o azul, o vermelho e o branco.
Poesia, filosofia e sentido de humor, num livro simplesmente perfeito. Um dicionário que faz muita falta em qualquer casa.
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