Enquanto está em Veneza a restaurar um retábulo de Veronese, Gabriel Allon pensa na vida. Dani, Chiara e Leah não saem da cabeça do espião israelita. Mas, esse momento reflexivo, é interrompido por uma chamada urgente da polícia italiana.
Julian Isherwood, o excêntrico negociante de arte londrino, deu de caras com o cenário de um brutal assassinato e é, agora, o principal suspeito. Para salvar a sua honra, recorre aos préstimos de Gabriel, seu amigo de longa data. Allon vê-se assim envolvido numa misteriosa trama e não tem outra alternativa senão encontrar o rasto dos homicidas, assim como procurar uma das mais emblemáticas obras de arte entretanto desaparecidas: a Natividade com São Francisco e São Lourenço, uma das obras maiores de Caravaggio.
Naquela que é uma das mais perigosas e fascinantes missões que já esteve envolvido, Allon é obrigado a percorrer o mundo e a entrar nos submundos do crime. Essa demanda levará o israelita a uma discreta instituição bancária austríaca, onde um perigoso ser gere a fortuna de um dos mais cruéis ditadores do século.
Para o ajudar nesta intrincada aventura, Gabriel conta com uma corajosa jovem que sobreviveu a um dos piores massacres da história da humanidade e tem, finalmente, a oportunidade de vingar-se de uma dinastia que lhe roubou familiares e amigos.
Basta folhear duas ou três páginas de “O Assalto” (Bertrand Editora, 2014), o décimo quarto livro da série Gabriel Allon, para voltar a sentir o peculiar universo de Daniel Silva. E o sentimento é de alívio, um conforto que apenas os fãs do espião israelita, restaurador de arte nas horas vagas, entendem depois de muitas horas agarrados ao prazer da escrita de um dos mais excitantes e assertivos contadores de estórias que misturam enredos de espionagem e thriller.
Mais uma vez somos transportados para uma viagem ao mundo obscuro da espionagem, desta vez com estreitas ligações ao Médio Oriente e ao complexo mercado paralelo da arte, que nos leva a percorrer Itália, Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Suíça, Áustria, Israel e Síria.
Pelo meio de um maravilhoso discurso narrativo – “O Assalto” é, sem dúvida, um dos melhores livros de Daniel Silva – há espaço para assassinos, velhas videntes, generais de dúbia intenção, assaltantes de peças de arte e quadros desaparecidos, a cultura Baath e a Primavera Árabe. Esses pressupostos servem (também) de pretexto para o escritor norte-americano contar um pouco da história de quadros, pintores e ambientes que marcaram o mundo (da arte) nos últimos séculos.
Em um dos períodos mais intensos da sua vida, Gabriel Allon assume-se neste livro num personagem cada vez menos unidimensional, à beira de uma nova forma de redenção, cuja complexa alma alberga inúmeros fantasmas. A par de Allon, o grande destaque vai para a construção do perfil de Jihan, uma mulher que reflecte a luta de um povo sem meios para se defender de um inimigo que corrói, corrompe, rouba e mata.
E, por falar em personagens, Daniel Silva consegue transformar Allon, Chiara, Lavon, Shamron ou Navot numa verdadeira família, daquelas que fazem falta, das quais se sente saudades e se espera ver em breve, sentimento esse que também se aplica a uma próxima aventura deste maravilhoso coletivo pois, a partir do momento que se lê a última linha de “O Assalto”, aquilo que se pergunta é: para quando outro livro de Daniel Silva?
1 Commentário
Adoro ler os livros de Daniel Silva, já li vários da série de Gabriel Allon,uma pena que é difícil achar todos os títulos publicados em português. Este será o meu próximo com certeza. Bela resenha!!