Passados dez anos desde a primeira publicação do clássico “Nove Mil Passos” (Planeta, 2014), a Planeta reedita uma das obras que mais marcou o romance histórico na literatura portuguesa. E, dizer apenas que é um romance histórico, é dizer pouco.
A imponência do Aqueduto das Águas Livres de Lisboa ainda hoje faz maravilhar os que lá passam todos os anos, desde distraídos a prisioneiros do tráfego lisboeta. E é precisamente nesse monumento que Pedro Almeida Vieira se vai focar, construindo uma obra da mesma forma como Manuel da Maia e Custódio Vieira construíram, com a ajuda do fantasma de Francisco d’Ollanda, o Aqueduto.
A história da construção é retratada ao longo dos séculos, desde a sua concepção ao primeiro jorro de água provada pelos lisboetas. A faustosa época de D. João V, o rei que queria ser como o Rei Sol (Luís XIV de França), é aqui retratada como uma época de excessos. Não só de dinheiro mas, também, de corrupção entre as elites. Nobres a comprarem posições governativas, clérigos a inventarem catástrofes naturais só evitadas com a entrada de algum dinheiro nos cofres da igreja, tudo com muita maçonaria à mistura. Podia muito bem ser o Portugal dos dias de hoje.
“Nove Mil Passos” não é apenas uma ode irónica ao absolutismo do reinado de D. João V. Não é apenas a narração da construção do Aqueduto (que foi uma verdadeira obra de Santa Engrácia). É uma forte arma de luta, que mostra como o povo, privado de água, se insurgiu contra aqueles que o privaram da sua essência.
Um Aqueduto de nove mil passos, que não via nem a classe social nem a posse do indivíduo. Uma luta pela igualdade. Uma inovação para a época.
Sem Comentários