Até à última palavra, da última página, mantemo-nos em completo suspense; mas uma coisa é certa: por ali fala-se de afectos, de algo bonito e intenso que toca a todos, em qualquer ponto do globo, em situações diversas e dispersas, antagónicas e até inesperadas. Por ali fala-se de algo comum, partilhado e desejado, uma sensação, um presente, uma dádiva.
“Não há dois iguais” (Kalandraka, 2015) é muito mais do que um álbum ilustrado, pintalgado de frases enigmáticas e cuja cereja no topo do bolo é o desenlace. Este é um livro-desafio, capaz de nos prender da primeira à última letra, remexendo no nosso dicionário de emoções para encontrar aquilo de que se fala. Então, fechado o livro, descoberto o segredo, identificada a palavra, resta-nos repeti-lo, encontrar-lhe sentidos entre frases e falar dele a quem gostamos de dar… sabendo que não há dois iguais.
Javier Sobrino, autor do texto, resgata-nos dos nossos espaços de conforto e viaja com a nossa cabeça e o nosso olhar. Então vamos a todo o lado, parando nas terras altas e atravessando planícies longínquas; subimos montanhas e perdemo-nos em portos confusos; viajamos para oriente e poente; andamos de barco e vamos ao cinema. É um desenrolar de lugares e situações do quotidiano, transversais ao globo e aos povos, face a algo que de tão próximo nos escapa ao entendimento.
A aclamada ilustradora portuguesa Catarina Sobral tem neste livro a missão de revelar escondendo, de sugerir sem mostrar, de pintar planos de fundos a uma só cor, numa sucessão de cor e negro, de figuras estilizadas e pormenores plenos de sentidos.
Por fim, que é apenas um início, abrimos a última página de par em par, como uma janela, e aquilo que vemos – as imagens claramente desenhadas e a palavra taxativamente identificada – é um clarão aos nossos olhos, arrumando tudo o que lemos para trás, dando-lhe um fio que une o texto e as ilustrações, que une as ideias e todo um cenário extremamente poético, que nos prende e nos liberta, depois.
Este livro podia ser só bonito no formato, no vermelho quente da capa, no título intrigante, nas viagens página a página que nos convida a fazer. Podia ser só bonito pelo final, pela união de tudo numa palavra tão simples e tão intensa. Podia ser só bonito pelo conjunto tão feliz. Mas, este, livro é ainda bonito por tudo o que temos vontade de dar, a quem amamos, depois de o ler.
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