“José-Augusto França: Com o O´Neill falava de janela para janela” (Guerra & Paz, 2015) apresenta uma longa entrevista que José Jorge Letria fez recentemente a José-Augusto França, que dá a conhecer um grande senhor e uma personalidade importante da Cultura Portuguesa pela sua própria voz.
O título “Com o O´Neill falava de janela para janela” remete desde logo para a sua ligação ao Grupo Surrealista de Lisboa, onde privou com Mário Cesariny de Vasconcelos e Alexandre O´Neill, por exemplo. Este último viveu em Lisboa em frente à casa de José-Augusto França e conversavam de janela para janela, realmente.
José Augusto França nasceu em Tomar, numa grande casa pertencente à Ordem dos Templários, a 16 de Novembro de 1922. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Doutorou-se em História pela Universidade de Paris com uma tese sobre a Lisboa Pombalina. Doutorou-se em Letras, em Paris, com a tese Le Romantisme au Portugal.
As viagens a Espanha e a França despertam-lhe o gosto pela pintura e foi, como historiador de Arte, que mais se destacou e é hoje reconhecido. Nessa área, para a qual tem intuição e sensibilidade únicas, fez estudos e publicações pioneiras. Deu a conhecer Amadeo de Souza- Cardoso em 1954, publicando o ensaio Amadeo de Souza-Cardozo: o Português à Força. É em Paris que se torna amigo do sociólogo da Arte, Pierre Francastel. Com ele estuda na École des Hautes Études como bolseiro do Estado francês. Foi director da revista Colóquio/Letras durante 25 anos.
Trabalhador incansável foi Professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa entre 1974 e 1992, onde criou e dirigiu o Departamento de História da Arte. Membro e presidente da Academia Nacional de Belas-Artes, membro da Academia das Ciências de Lisboa, membro da Academia de S. Fernando em Espanha, membro do Comité Internationale de l`Histoire de l´Art, etc., etc. Foi Crítico de Arte e Cinema em revistas nacionais e estrangeiras como os Cahiers du Cinéma, entre outras de semelhante prestígio.
É co-autor do Dicionário de Pintura Universal que se vai publicando ao longo de 13 anos. Publica a Arte em Portugal no Século XIX e, mais tarde, A Arte em Portugal no Século XX. Publicou Almada Negreiros: o Português sem Mestre. Publicou Rafael Bordallo Pinheiro: o Português tal e qual. E um sem número de obras e colaborações bem como organização de exposições, para além de toda a sua obra ficcional.
O entrevistado revela ao longo desta longa conversa uma memória e presença de espírito extraordinárias. Toda a sua vida – que já conta com mais de 90 anos -, o seu percurso, o seu trabalho e a sua obra, são aqui descritos e analisados com pormenor e rigor de forma factual. Nada de muito pessoal, intimista ou psicológico. Quem não se interessar pelos temas intelectuais e artistícos que foram e são o objecto do seu trabalho, não encontrará interesse na entrevista, pois o historiador não se dispersa por divagações filosóficas nem fala da sua vida propriamente pessoal. José-Augusto França apresenta aqui, conduzido por José Jorge Letria, um retrato seu de homem de acção muito centrado no trabalho e em tudo o que o envolve, intelectual brilhante, homem do mundo e da cultura. Um resumo de uma vida conseguida.
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