Chamem-lhe um estranho objecto. Um rectângulo esquisito. Um monte de folhas a preto e branco. Para Keri Smith – autora de “Destrói aquele diário” -, vale mesmo tudo desde que não se diga: “Isto não é um livro” (Planeta, 2015).
Seja como for, a pergunta tem de ser feita logo de entrada: “Se isto não é um livro, o que será?” As respostas poderão ser várias, mas em comum terão uma palavra que incita a puxar pela criatividade, irreverência e massa cinzenta: imaginação.
Neste diário gráfico virado de pernas para o ar, várias coisas são pedidas ao leitor, sem limite de tempo ou impondo uma ordem. As regras e conselhos são apenas três: “Confia na tua imaginação. Ela é a fonte de todas as verdadeiras viagens”; “as coisas não são sempre o que parecem”; “tudo pode acontecer.”
Os desafios são muitos, todos eles contendo uns pozinhos de loucura: é pedido para se segurar o livro por cima da cabeça o máximo de tempo possível; há folhas para se escreverem comentários para, depois de recortados, serem deixados bem à vista em locais públicos; propõe-se um inventário dos bens; atiram-se moedas para um poço dos desejos; constrói-se uma máquina de alteração do estado psicológico; elabora-se um plano para mudar o mundo; há até uma árvore para se gravar uma inscrição.
Com agradecimentos finais que vão de Marcel Duchamp a Yoko Ono, piscando também o olho a John Cage ou José Saramago, “Isto não é um livro” reserva momentos de pura diversão para os mais pequenos, que com ele poderão cometer verdadeiros actos de heresia: recortar, rasgar, pintar, escrever, desenhar e colar coisas em páginas. Afinal, se isto não é um livro, vale tudo. Haja imaginação para tanta – e saudável – parvoíce.
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