Para Harry Potter, ao contrário do que normalmente acontece com todos os adolescentes, o Verão é sinónimo de aborrecimento e ansiedade. Este ano, porém, está a viver o pior Verão desde que foi estudar para Hogwarts. A juntar ao facto de Privet Drive estar a atravessar períodos de falta de água e calor intenso, todos parecem ter-se esquecido dele, sobretudo Ron e Herminone, que não lhe enviaram uma mísera linha durante todas as férias.
Depois do recente confronto com Voldemort, Harry segue com muita atenção todos os noticiários dos muggles, em busca de sinais que mostrem que a figura maior do lado negro está de regresso. Num dos seus passeios nocturnos, enquanto regressava a casa na companhia do primo, Harry ouve um enorme estampido, daqueles que prenunciam uma materialização. De repente vê-se cercado por Dementors e, para salvar a vida – e a do primo -, vê-se obrigado a quebrar uma regra, fazendo uso de magia e ganhando, inevitavelmente, a ordem de expulsão de Hogwarts, a ser confirmada – ou anulada – numa audiência com o Ministério da Magia.
Na viagem para Londres, Harry Potter será escoltado por um bando de feiticeiros da velha guarda, que pertencem a uma sociedade secreta dedicada a lutar contra Quem-nós-sabemos: a Ordem da Fénix que, nos dias que correm, tem sede montada m casa dos Black, onde vive Sirius, o padrinho de Potter.
Em “Harry Potter e a Ordem da Fénix” (Editorial Presença, 2014 – reedição), o mundo da feitiçaria está dividido ao meio. De um lado, Voldemort prepara as tropas para um mais do que provável regresso, reunindo os Devoradores da Morte e colocando espiões em locais estratégicos; do outro, Dumbledort trata de proteger Harry Potter com a ajuda da Ordem da Fénix, alertando a comunidade de feiticeiros para a iminente chegada de Voldemort que, de acordo com os sonhos proféticos de Potter, está à procura de uma poderosa arma escondida nos corredores do Ministério da Magia.
No meio de tudo isto está Cornelius Fudge – o presidente do Ministério da Magia -, que se encontra em total ruptura com Dumbledore, pensando que este lhe quer roubar a liderança. O Ministério recusa-se a acreditar na história de Potter – ler anterior volume -, negando veementemente que o Senhor das Trevas esteja de regresso e tenta, a todo o custo, fragilizar a posição de Dumbledore e Potter entre os feiticeiros.
O quinto livro da série é, provavelmente o mais cinzento de entre os primeiros cinco, talvez pelo facto de (praticamente) toda a acção decorrer dentro de portas, seja na residência dos Black, em Hogwarts ou no Ministério da Magia. É também o livro onde, pela primeira vez, a morte mostra a sua face, levando uma das personagens mais emblemáticas da saga, como que anunciando, aos jovens feiticeiros e leitores, que chegaram a um novo estado da sua adolescência.
Ainda que a certo ponto pareça ficar cercado por uma certa monotonia, este quinto livro oferece uma ponta final de cortar a respiração, provocando o desmoronar do sistema onde se encontrava assente o mundo da feitiçaria. Além disso, é também o livro onde o cerco a Dumbledore e a Hogwarts é apertado ao nível de um garrote, com um controle absurdo de todas as regras, rotinas e leis por que a Escola tem sido gerida ao longo da sua história.
Dumbledore, por exemplo, vê-se destituído do cargo de Feiticeiro Chefe do Wizengamot, o Supremo Tribunal da Feitiçaria. Não contente com isso, o Ministério envia a Hogwarts a Professora Umbridge que, para além de leccionar a maldita disciplina de Defesa contra as artes negras, cedo se tornará na grande inquisidora de Hogwarts, com o poder de alterar leis e publicar decretos de acordo com a sua vontade.
Apesar do clima castrador, Hogwarts e o mundo da feitiçaria continuam a trazer-nos muitas oferendas e supresas: Percy entrou em ruptura com os pais e saiu de casa, fascinando com o poder do Ministério da Magia; Kreacher, o elfo doméstico dos Black, vive revoltado com a nova liderança de Sirius, não escondendo as saudades do regime despótico e negro que reinava na actual morada da Ordem da Fénix; para além da habitual e sempre alternativa canção com que abre o espectáculo para os alunos do primeiro ano, o chapéu seleccionador decide dar conselhos e entrar em lamentações; Snape, por mais estranho que possa parecer, dá aulas particulares a Potter.
Além de nos revelar o passado familiar de Sirius Black, “Harry Putter e a Ordem da Fénix” vem também aumentar a importância de Harry na luta pela estabilidade no mundo da feitiçaria, vestindo-o com o mesmo manto proverbial que o Homem-Aranha usou toda a sua vida: quanto maior o poder, maior a responsabilidade.
Outros textos da série:
“Harry Potter e a pedra filosofal”
“Harry Potter e a câmara dos segredos”
“Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban”
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