Um manual de instruções para que o leitor se faça homem e, utilizando a ideia de Rui Unas logo no prefácio, desenganem-se todos os senhores que esperam uma obra machista, com crónicas colocadas sem dó nem piedade, contra as mulheres. O conteúdo de “Faz-te Homem” (Objectiva, 2015), escrito por Luís Coelho, é fruto da observação do dia-a-dia: da sua relação, da vivência a dois, da experiência de amigos ou, quem sabe, das histórias ouvidas na rua. Não é qualquer escritor que consegue escrever sobre “a vidinha” – as mulheres, gadgets, futebol ou mesmo os tremendos jantares de Natal, que se tornam no acontecimento do ano em qualquer empresa – e prender profundamente o leitor.
Se o cartão-de-visita já é atraente, graças à escolha do humorista Rui Unas para escrever o prefácio, o conteúdo é irresistível a qualquer leitor. Com o humor a ser colocado cada vez mais como uma arte fácil, em que nenhum tipo de reflexão ou pensamento é exigido ao leitor ou espectador – e com o crescimento das redes sociais são as imagens “engraçadinhas” que ganham quando é o humor que está em jogo. O conteúdo “engraçadinho”, que se alastra como um vírus tenebroso, é aquele que nada exige ao utilizador ou leitor, consumido e esquecido em poucos segundos. O esquecimento é algo que não faz parte deste “Faz-te Homem”, algo conseguido pela combinação de dois conteúdos essenciais: a descrição de acontecimentos do quotidiano e o humor da escrita de Luís Coelho.
Tudo o que surge de situações monótonas relembra imediatamente o leitor das suas próprias experiências. Quem nunca jogou ao Tetris da Loiça ou ao Agora Escolhe com a namorada? Ou com a mãe ou a irmã? De acordo com o autor, no Agora Escolhe, a namorada fica como apresentadora e dá a escolher entre a tralha que fica em casa e a que vai para o lixo. E, com um humor brilhante, Luís Coelho dá conta contra quem compete a tralha masculina: é contra a mulher e não contra a tralha da outra parte. Não faltam momentos para gargalhadas e, de certa maneira, para alguma reflexão. Se há livros que têm piada e pinta, este “Faz-te Homem” é um desses espécimes.
Leve e original são as duas palavras que podem descrever todas as crónicas: ora há uma declaração particular dos direitos dos Homens, como uma descrição da vida em casal como uma relação entre presa e predador – e também um brilhante texto sobre a lógica feminina. Desenganem-se os que pensam que uma vida de casal é algo doce. Não faltam situações caricatas, hábitos que atiçam os nervos quer dos homens quer das mulheres, e é uma voz como a de Luís Coelho que irá, com certeza, divertir os leitores. “Faz-te Homem” vem provar que o humor é mesmo a melhor forma de conduzir assuntos domésticos – e, também, de escrever um guia para cavalheiros.
“A lógica masculina obedece a parvoíces como a matemática e as leis da física. A lógica feminina não obedece a nada. (…) Assenta no pressuposto de que qualquer coisa que a mulher faça faz sentido. É por isso que a mulher tem sempre razão (como é lógico).”
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