Céu é uma rapariga que, como muitas outras raparigas – e também rapazes -, tinha uma paixão louca por andar de baloiço. O pai chamava-a vezes e vezes sem conta, mas Céu não dava grande importância aos chamamentos. Até que um dia, depois de responder “não” vezes sem conta ao chamamento do pai para ir para casa, lhe saltou a cabeça do corpo, que desapareceu a uma grande velocidade.
Uma gaivota contou-lhe que o vento estava a levá-la para a montanha, tendo assim início uma pequena odisseia que a irá levar, com a ajuda dos muitos animais que vai encontrar pelo caminho, a experimentar várias e alheias cabeças, que teimam em não lhe servir ou, sobretudo, agradar.
A demanda parece condenada ao fracasso, até que um espirro não contido a faz cair dentro de uma montanha, acabando por viajar até ao seu coração. Aí ouve algo que fica algures entre o aviso e a revelação. Apesar de lhe ser indicado o lugar onde está escondida a sua cabeça, há um pequeno enigma que terá de resolver de modo a dar com a saída da montanha: descobrir (um)a palavra mágica.
Após nos ter levado para dentro da “Barriga da baleia”, revelando um mundo magnífico onde a areia era deliciosa, as árvores fantasmagóricas e o fundo do mar magnífico, António Jorge Gonçalves conduz-nos agora, neste “Eu quero a minha cabeça” (Pato Lógico, 2015), ao coração da montanha, feita de cores vivas, uma requintada variação cromática, muita geometria e, também, alguns momentos de susto, numa história que ensina os mais pequenos a proferir uma das muitas palavras mágicas da vida. Ou, pelo menos, a dar-lhe um pouco a volta, transformando um convicto “sim” num mais esperançoso “já vou”.
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