Ingrid Bauman, ou “a alemoa” – como carinhosamente lhe chamavam na aldeia de Silha da Palha -, foi encontrada morta na Lagoa Salgada, com um estranho vestido de cortiça que combinava na perfeição com uns não menos estranhos brincos de bolota. O corpo foi descoberto pelo Zé da TVI, proprietário do café mais frequentado da aldeia que, em três tempos – assim como a aldeia -, foi invadido por jornalistas em busca de mais uma história sumarenta – e dos belos petiscos que por á se cozinhavam.
Como se não bastasse, a Guarda local terá de colaborar com a Judiciária vinda a contragosto de Setúbal o que, para o cabo Carneiro, apreciador de amêndoa amarga e habitual perdedor ao jogo da lerpa, será certamente uma maçada das grandes.
A par da investigação oficial, um trio auto-intitulado de “sagrada família” – composto pelo camarada Júlio Sebastião, o Horácio e o “ti” Joaquim –, tentará somar à captura do ladrão da Renault 4 do Carlos mecânico e à descoberta do paradeiro da mulher do Chico Silva – que vai-se a ver tinha fugido com outro depois de ter acumulado anos de pancada – mais um caso de sucesso.
A missão, porém, revela-se muito complicada e, com a ajuda de uma camila com uma perna a menos, os conhecimentos de oculto do camarada e uma boa dose de álcool, decidem convocar os espíritos de Agatha Christie, Rex Stout, Erle Stanley Gardner e Georges Simenon. Em breve, chegarão à aldeia quatro figuras que tentarão, cada uma à sua maneira e feitio, descobrir quem terá assassinado a simpática e muito sensual alemã numa aldeia tão pacata. Entre amantes abandonados e mulheres ciumentas não faltam suspeitos mas, na falta de evidências, restam os petiscos e as minis servidas no café do Zé da TVI para ir mantendo em alerta o espírito detectivesco posto à prova com os 40 graus que (não) sopram lá fora.
Romance de estreia de Celso Filipe, actualmente sub-director do Jornal de Negócios, “Escrevam a dizer quem foi ao meu funeral” (Planeta, 2015) é um policial light com uma boa dose de surrealismo que convoca, para lá de quatro figuras deslocadas do tempo e da realidade, o editor do próprio livro, que tem já em marcha a campanha de marketing e precisa desesperadamente do manuscrito.
Mais do que um policial à moda antiga, o leitor encontrará neste livro uma visão humorística de como é experienciado um crime numa pequena aldeia. E que revela, nas páginas finais, o possível próximo livro de Celso Filipe.
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