Este livro é um desafio complicado para os certinhos que não dobram sequer as lombadas dos livros que leem. Então, como irão conseguir pisá-lo, encharcá-lo em café, rasgá-lo e dobrá-lo, numa espécie de tortura programada e faseada de um objeto merecedor de respeito?
“Destrói este diário” (Planeta, 2014) é um projeto de Keri Smith, completamente inovador, desconcertante e até polémico. Um ato de coragem dedicado aos perfeccionistas, num verdadeiro trabalho contra a sensatez.
Para começar põem-se os números de página, esquecidos de propósito, depois abre-se o livro vincando-lhe, em definitivo, a lombada. Daqui para a frente, tudo é possível, porque há páginas para quase todos os desafios. Fazer linhas usando o lápis com toda a força, raspar o papel com um objeto afiado, usar uma folha como guardanapo durante um jantar, colar autocolantes da fruta e arrancar uma página, levando-a à máquina de lavar roupa e voltando a colocá-la no sítio. Para quem sempre tentou, mas nunca conseguiu, terminar um diário esta é a derradeira oportunidade. Sem ordem obrigatória, sem prazos, sem limites. Basta seguir as dicas, ao sabor das vontades, e acreditar que criar também pode ser destruir… com imaginação.
Keri Smith é uma artista canadiana, cujo trabalho se desenrola entre o seu país e a cidade de Nova Iorque, sempre em volta das questões da criatividade. Os seus livros best-sellers e as apps que desenvolve são reconhecidos e aplaudidos, tendo recebido o prémio de melhor app de não-ficção para adultos 2014, dos Digital Book Awards, pela aplicação “Pocket Scavenger”. Keri Smith é professora, em várias universidades, de educação conceptual, e o seu principal objeto de trabalho é o conceito de “Obra Aberta”, encetado por Umberto Eco. Assim, Keri Smith constrói obras enquanto peças a serem completadas pelo leitor/utilizador. “Destrói este diário” é um bom exemplo dessa premissa. Um livro interativo, para espíritos criativos e inconformistas de todas as idades.
Este diário gráfico é uma escolha original, como presente, para quem aceita ser estimulado, para quem quer enfrentar a angústia da página em branco e para quem ousa criar partindo da destruição versus imaginação.
Por fim, cumpridos todos os desafios, basta preencher a contracapa, semelhante a um envelope, fechar o livro com fita-cola, colar o selo e remete-lo para si próprio, aguardando a chegada do carteiro, com expetativa.
Sem Comentários