Hans Olav Lahlum, escritor e historiador norueguês, jogador de xadrez e político, tem-se ocupado particularmente de biografias sobre políticos notáveis. A sua entrada no “mundo do crime” está a correr com sucesso, numa boa aplicação da sua mescla de conhecimentos e do gosto por enigmas e desafios intelectuais.
“Crime num Quarto Fechado” (Asa, 2015) é-nos apresentado como um livro imperdível para os fãs de Agatha Christie e Rex Stout. As comparações tão frequentes na crítica/apresentação do que quer que seja colocam-nos, frequentemente, no jogo do “descubra as diferenças”, como se tivéssemos chegado ao final de qualquer revista ou jornal.
Na realidade, facilmente se encontra a inspiração para tal alusão: na sua primeira investigação sobre um homicídio, o jovem inspector Kolbjorn Kristansen (K2) vê-se confrontado com um grupo de suspeitos e, depois de olhar para cada um deles como o tal presumível culpado – e nessa avaliação individual daquele colectivo -, o leitor tentará chegar aos motivos invisíveis de cada um. Deixamo-nos conduzir, se bem que, tal como na condução automóvel, também seja importante simular que aceleramos e travamos que nem co-pilotos a comandar o curso e a velocidade dos acontecimentos.
Neste caso, o prazer do desafio é atormentado por uma realidade tenebrosa da história, mais propriamente sobre a Noruega ocupada pelos Nazis durante a 2ª Grande Guerra, e o papel da resistência na passagem de refugiados para a Suécia, fronteira que separava a sorte e o azar, a vida e a morte.
A base deste “Crime num Quarto Fechado” é o homicídio de um antigo ministro e herói de guerra, Harald Olsen. Não se conhece o motivo, não se tem a arma, o apartamento está fechado por dentro mas, perante as circunstâncias, o grupo de suspeitos são os moradores do prédio do Oslo onde ocorreu o crime. Quem poderá desejar e querer matar um exemplar cidadão e virtuoso político? Na lista dos suspeitos temos heróis e derrotados, gente de alguma forma com a guerra cravada nas suas vidas.
Ao contrário de Marple e de Poirot, o inspector K2 não está sozinho nesta tarefa: tem a participação à distância de Patrícia Borchnam, uma jovem intelectualmente brilhante, entregue a uma cadeira de rodas após ter sofrido na infância um grave acidente. Digamos que o sucesso da dupla decorre especialmente do elemento feminino, não obstante K2 ser o elemento visível e executor das tarefas dirigidas pela sua parceira.
No decurso da leitura vamo-nos envolvendo nas histórias de cada um, os segredos vão sendo revelados, as pontas vão sendo apanhadas, os nós desfeitos, até que se chega ao culpado(a), aí numa lógica verdadeiramente “Agathiana”. Quanto ao acompanhamento para “Crime num Quarto Fechado”, digamos que não será só para ler à hora do chá; ficará igualmente bem com um tinto maduro ou um verde gelado.
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