Após o lançamento de “Logicomix”, a Gradiva parece ter encontrado um gosto particular pela união entre a BD e as ciências. Nesse seguimento surge “Cosmicomix” (Gradiva, 2015), um livro que, a partir da linguagem da BD, nos pretende dar a conhecer os passos que levaram à descoberta da teoria do Big Bang.
A história começa com Arno Penzias e Robert Wilson, em 1964, na altura em que trabalhavam nos laboratórios Bell, em Holmdel, na Nova Jérsia. Neste momento das suas vidas, Penzias e Wilson captavam sempre um estranho ruído nas medições que se encontravam a efectuar no espaço. Um problema que, no início, parecia ser de cariz técnico, viria a revelar-se, no futuro, como a grande resposta para a origem do Universo, pois a prova definitiva que confirmaria a teoria do Big Bang encontrava-se, precisamente, neste estranho ruído. Em parelelo a esta situação, Balbi vai alternando com os vários desenvolvimentos científicos que ocorreram nesta área entre 1920 até 1978, o ano em que Penzias e Wilson venceram o Nobel da física por este mesmo trabalho.
De facto, a lembrança de “Logicomix” não acontece apenas por opções editorias, pois este projecto de Amedeo Balbi e Rossano Piccioni parece surgir algo influenciado pelo trabalho de Apostolos Doxiadis e Christos Papadimitriou, substituindo a lógica matemática pela física aplicada à cosmologia. No entanto, neste caso, o argumento de Balbi parece maioritariamente preocupado em transmitir, com rigor científico, a informação por detrás das várias teorias, sobre o comportamento e origem do Universo, que foram surgindo ao longo dos anos.
Nesse sentido, em “Cosmicomix” não existe grande espaço para o desenvolvimento das personagens, o que acaba por tornar a sua leitura muito rígida e documental. É verdade que Balbi se preocupa em tentar captar as personalidades distintas das várias figuras ilustres que por aqui surgem; porém, as personagens não são mais do que veículos de informação. “Cosmicomix” é, acima de tudo, uma BD informativa, sem grandes ambições narrativas.
Quanto aos desenhos de Piccioni, num registo de traço simples e tremido, servem bem o argumento, enquanto a cor, feita digitalmente, resulta num produto baço, o qual não só não beneficia da cor, como poderia até viver melhor sem ela.
No final temos um apêndice que reúne as mini-biografias dos principais intervenientes desta história, tais como Einstein, Friedmann e Gamow, além dos já mencionados Penzias e Wilson. Um posfácio e epílogos de Balbi muito úteis em termos informativos e, por fim, dois exemplos da construção de uma prancha a partir do argumento (num deles podemos notar a contribuição de Piccioni no planeamento da narrativa gráfica).
A BD, devido à forma como liga as palavras e os desenhos, continua a ser um meio útil para transmitir certos conhecimentos científicos de uma forma menos densa. Balbi consegue, desta forma, usá-la para criar um trabalho didáctico e rigoroso em termos científicos, mas pouco expressivo e estimulante enquanto recriação histórica dos acontecimentos. É a teoria que domina o livro, ainda que o autor tenha tido em atenção a forma como esta informação é transmitida, uma vez que nem todos os leitores serão entendidos na matéria.
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