Após a publicação de “O que está lá fora”, corria o ano de 1981, Maurice Sendak (1928-2012) esteve praticamente três décadas sem lançar um livro de sua completa autoria, até que, em 2011, surgiu “Chico-Chorão” (Kalandraka, 2015), que acabou por ser a sua última obra editada ainda em vida.
Trata-se de um dos chamados álbuns irreverentes – há quem se estique e lhes chame mesmo “selvagens” -, que a Kalandraka tem publicado nos tempos mais recentes, e que narra as peripécias de um pequeno porco que, já com nove anos, vai celebrar o seu primeiro aniversário, tudo graças à tia Adelina que, depois da família do Chico-Chorão ter acabado feita em chouriços, o decidiu adoptar.
A tia decide então surpreende-lo com um bolo e um belo disfarce mas, não contente com isso, o porquinho decide organizar a sua própria festa, convidando alguns porquinhos imundos “para comerem bolo e marinada à hora marcada”. Tudo sem o conhecimento da tia que, entretanto, tinha ido tratar da sua vida para Silva & Pescada.
As coisas até pareciam estar a correr bem, mas bastaram nove minutos para tudo começar a descarrilar: a porta foi arrombada, os arrotos e grunhidos fizeram-se ouvir, a marinada que a tia tinha preparado com tanto esmero desapareceu num ápice. O pior de tudo foi mesmo quando a tia chegou a casa, não tendo Chico-Chorão um sítio para se esconder.
A narrativa da história – com tradução de Carla Maia de Almeida -, situada entre a velocidade e o puro disparate, é acompanhada por ilustrações com muito de grotesco, onde as personagens vêem os seus traços ampliados até ao ponto da caricatura. À semelhança de outros livros de Sendak – o exemplo maior será “Onde vivem os monstros” -, à medida que o livro se aproxima do fim as personagens vão aumentando de tamanho, parecendo que vão explodir para lá das páginas.
Há também balões de diálogos, cartazes e objectos com mensagens divertidas, e um olhar atento irá descobrir coisas novas a cada uma das leituras, como se Sendak se dedicasse – e divertisse – a deixar mensagens e surpresas subliminares, numa história onde uma vez mais o autor deixa uma farpa à super-protecção a que todos somos – ou fomos – sujeitos durante a infância.
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