No ano em que se assinalam cem anos sobre a Grande Guerra, descrita por alguns como o primeiro acto de auto-sacrifício do século XXI, muitos foram os livros que chegaram às livrarias sobre o acontecimento. Entre eles há, porém, alguns que merecem menção especial, como acontece com “Catástrofe” (Vogais, 2014) – com o sub-título “1914: a Europa vai à guerra” -, da autoria de Max Hastings. Ou Sir Max Hastings, se preferirem fazer uso do título.
Em “Catástrofe”, Hastings tentou reunir duas vertentes que habitualmente caminham separadas em livros dedicados à guerra: o turbilhão político e diplomático e a narrativa militar. Na introdução, o autor desmonta desde logo a ideia de uma visão de certa forma romanceada do conflito: «Neste nosso século XXI, a visão mais comum desta guerra está dominada pelas imagens poéticas das trincheiras, da lama e do arame farpado. Mas não é assim.» Hastings partilha, ao invés, a visão que Churchill teve do conflito, que ofereceu «uma dimensão trágica nunca superada.» E, também, rejeita a ideia de que este conflito terá pertencido a uma ordem moral diferente da de 1939-45.
“Catástrofe” estará perto de uma crónica humana literária, trocando a descrição detalhada de números de divisões e regimentos e outras especificidades militares pela explicação do que aconteceu a milhões de homens e mulheres durante os primeiros meses da contenda, sejam generais, camponeses ou donas de casa.
Não terá sido fácil escrever um livro desta amplitude. Segundo Hastings, «quase todos os principais intervenientes, aos mais diversos níveis, falsificaram o registo das próprias intervenções; também muito do material de arquivo foi destruído, não apenas por descuido, mas por ser muitas vezes considerado prejudicial para a reputação das nações ou dos indivíduos.» Ainda assim o trabalho de Hastings – e sobretudo o resultado – é de louvar, sobretudo por manter também viva e polémica a discussão sobre algumas pontas soltas, revelando a missão do historiador enquanto desafiador das opiniões estabelecidas.
Hastings fornece ainda uma curta e sintética cronologia dos eventos, uma pequena explicação sobre a organização dos exércitos de então e um olhar sobre o pós-guerra imediato, dias que «…exercerão um eterno fascínio sobre a humanidade, pois testemunham os últimos momentos de esplendor das cabeças coroadas europeias, e o nascimento de um terrível novo mundo envolvido em guerra.»
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