Para muito bom leitor, assim como para os mais sazonais, as férias são uma excelente oportunidade para pôr a leitura em dia, seja para terminar o livro que vai ganhando pó na mesa-de-cabeceira, para começar um livro que está para ler há anos ou, então, para despachar alguns dos livros da pilha que faz com que a mesa da sala se pareça já com uma pequena pirâmide.
Há, porém, o risco de se escolher como companhia uma obra que, de tão sombria, pode assustar o tempo veraneante a trazer a chuva para dentro da casa de férias. Assim, de modo a evitar férias marcadas pelo descalabro sentimental, muitas vezes o melhor é optar por livros que naveguem entre o suspense e o mistério, que ofereçam personagens bem construídas num cenário atravessado por muita adrenalina e de acelerador a fundo, não obrigando o leitor a entrar em modo introspectivo. “Beijo Fatal” (Porto Editora, 2015), do escritor norte-americano Jeff Abbott, é um desses livros que poderia vir com o selo “Leitura recomendada para o Verão” impresso na capa.
Whit Mosley é um rapaz novo e descontraído, um juiz de paz que ninguém parece levar demasiado a sério. Afinal, o trabalho caiu-lhe no colo quase por acidente, através do sistema de castas e cunhas que vai imperando no mercado laboral, seja ele real ou ficcional. Em ano de reeleição, Whit não está particularmente empenhado em renovar o cargo, um gesto que se irá juntar ao seu já extenso currículo de falhanços profissionais.
No entanto, as pacatas águas de Port Leo, uma cidade plantada no Texas americano, agitam-se quando Whit é chamado para atestar um óbito. O cadáver pertence ao filho de uma importante senadora, regressado à terra natal depois de uma longa ausência e de uma carreira no mundo da pornografia. Quando tudo indica tratar-se de um suicídio, Whit segue o seu instinto e decide desafiar a pressão política, investigando com a detective Claudia Salazar um mundo onde se escondem barões da droga, vigaristas profissionais e amantes incondicionais do poder. Um thriller bem construído, ideal para ser lido com os pés enterrados na areia molhada.
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