No que ao policial diz respeito, 2015 começou com os olhos e os lábios pintados de negro. Depois de “A rapariga-corvo” e “Fome de fogo”, a trilogia que nos deu a conhecer As faces de Victoria Bergman, chega-nos agora “As instruções da Pitonisa” (Bertrand Editora), que encerra uma história carregada de espírito psicótico e violência física, psicológica e todas as outras formas de que se conseguirem lembrar.
Quando se esperava que fosse Victoria Bergman a tomar conta das operações, arrancando para um vingativo e desenfreado tour sanguinário, é Sofia Zetterlund quem assume as rédeas cerebrais, mantendo sessões de auto-terapia e tentando, de alguma forma, incorporar Victoria Bergman no seu ADN, transformando duas entidades opostas – e mais umas tantas – num único ser que não receia confrontar um passado doloroso.
Porém, estamos longe de estar perante um livro de reconciliação, muito por culpa e graça de Madeleine, a filha e irmã de Victoria que, neste terceiro volume, lhe vê oferecido o direito de também ela recordar, mostrando que a genética, normalmente, não é propensa a grandes mentiras ou desvios.
Quando um carro é devorado pelas chamas, servindo de crematório aos corpos das duas mulheres suspeitas dos homicídios em série das antigas alunas do internato de Sigtuna, o caso parece estar resolvido. Afinal, a polícia havia encontrado na posse de uma delas várias polaroides das vítimas rodeadas por túlipas amarelas, o que faz crer tratar-se de um suicídio duplo cometido por arrependimento. Algo que, ainda assim, não convence de todo Jeanette Khilberg, responsável maior pela investigação.
Ainda que uma confissão aberta surja logo nas primeiras páginas, eliminando a vertente agathachristiana de descobrir quem andaria a tratar da saúde a muito boa – mas sobretudo má – gente, “As instruções da pitonisa” reserva ao leitor uma pequena surpresa, fechando o pano numa história construída com abusos sexuais, maus tratos infantis, corrupção e violência a rodos.
Mesmo que lhe fique mal a clássica desculpabilização de um assassino implacável devido a traumas de infância, a dupla erik axl sund cumpriu, na perfeição, algo pressentido pelo leitor nos anteriores volumes: os finais felizes não moram nestas páginas.
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