Samantha Hayes é escritora profissional desde 2006, parecendo que o seu despertar tardio para a arte literária não interferiu com a inspiração, dados os 6 livros que editou desde então. Mas a inspiração por vezes abandona-nos, deixando-nos à mercê da competência, um atributo que, por mais trabalhado que seja, nunca poderá ser o substituto mais desejável e correcto. E parece ter sido isso que aconteceu com o pouco inspirado “Antes que morras” (Topseller, 2015) onde, a meio da sua leitura, mais parece estarmos a ser conduzidos para um «antes que morra de tédio».
A acção desenrola-se numa pequena vila, assolada por uma vaga assustadora de suicídios (?) que, pouco a pouco, regressa à normalidade. Uma inspectora de visita a familiares vê-se assim subitamente envolvida em mortes misteriosas, envolvimento que se adensa após o súbito desaparecimento do seu sobrinho.
As personagens parecem ter sido caracterizadas para uma série mais razoável de “Morangos com açucar”, o que desde logo deixa a fasquia em níveis de pobreza iminente, qual rating da economia Portuguesa (habitualmente apelidada de «lixo»).
Os temas são actuais mas por demais debatidos e do senso comum. Falar de bullying, auto-mutilação ou suicídio juvenil até pode ser interessante, mas a autora nunca aprofunda a relação dos seus personagens com as situações, parecendo sempre que estas foram “plantadas” na trama daquela forma e que, a partir daí, nada mais interessa.
As falhas no estudo e na investigação de factos concretos tendem a que certos episódios se tornem algo caricatos, sobretudo quando a autora é apresentada como alguém que escreve thrillers psicológicos ambientados na vida familiar e focados em assuntos do quotidiano.
Garantem-se “twists” variados até final mas, em boa verdade, nenhum deles com ritmo suficiente para nos deixar encantados.
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