Formada em Arte Dramática e Literatura Inglesa, a australiana Kate Morton é uma das mais reconhecidas autoras contemporâneas e regista livros editados em cerca de quatro dezenas de países, com vendas que superam a incrível marca dos oito milhões de exemplares vendidos.
Depois do sucesso com livros como “O Segredo da Casa de Riverton” e “O Jardim dos Segredos”, Morton faz chegar às livrarias “Amores Secretos” (Suma de Letras, 2014), um romance que revela a história de uma família britânica que esconde um terrível segredo com mais de cinco décadas.
O início da trama leva-nos de regresso a 1961, quando Laurel Nicolson, hoje uma atriz de grande sucesso, tinha apenas 16 anos e testemunhou um acontecimento que iria mudar a sua vida. Apenas Laurel e Dorothy, sua mãe, sabem que realmente se passou nesse dia aziago, mas nunca falaram sobre tal. Entre as duas apoderou-se um cenário de tácito acordo mudo.
Como um fantasma que teima em persistir, esse acontecimento nunca abandonou a mente de Laurel, que revive ciclicamente esses momentos intensos sempre na tentativa de os entender. O que levou a mãe a matar um desconhecido? Quem seria o homem que apareceu em Greenacres, a propriedade da família, no dia de aniversário do seu irmão mais novo, perdendo a vida depois de apunhalado com a mítica faca da família Nicolson? O que esconde Dorothy?
Estas dúvidas subsistem aquando da comemoração dos noventa anos de Dorothy. Estamos em 2011 e as filhas da matriarca, agora a lidar com as agruras do Alzheimer, resolvem fazer uma memorável festa de aniversário em Greenacres. Laurel sente que está perante a derradeira oportunidade de ver esclarecido o mistério que lhe assombra a existência.
A tentativa de deslindar o mistério leva Laurel a regressar a 1941, quando Dorothy era apenas uma adolescente impulsiva e cheia de planos que iam contra as ideias que os pais tinham para si. Trabalhar como secretária numa fábrica de bicicletas era muito pouco para a “extraordinária” Dorothy.
Numa viagem entre presente e passado, Kate Morton leva o leitor a descobrir, pista a pista, peças de um complexo puzzle que vai revelando facetas de uma vida que, afinal, assume características surpreendentemente transcendentes. Para tal, a autora serve-se de uma imaginação fértil que invariavelmente desagua em desfechos de natureza romântica.
À medida que as páginas evoluem, a narrativa torna-se mais sólida e os divergentes acontecimentos do passado são sinónimo de episódios repletos de tragédia, traição, amores perdidos e segundas oportunidades. Os personagens são alvo de um interessante sublinhado ainda que, por vezes, sejam descritos através de tangentes que, de tão abrangentes e longas, podem ocasionalmente distrair o leitor da verdadeira ação, fazendo com que o mesmo a resgate no decorrer nas páginas seguintes – o que pode levar a momentâneas perdas do fio condutor de toda a estória.
Ainda que toda a trama se assuma coesa – e na qual se regista uma ligação intima entre os intervenientes -, a narrativa de Morton tende a resvalar para territórios já explorados em romances anteriores, ainda que tenham, indiscutivelmente, finais verdadeiramente reveladores e surpreendentes.
Outras das imagens de marca da autora são os relatos paralelos que, quando em excesso, revelam-se como cenas sem pertinência que parecem nascer de uma tentativa – maioritariamente frustrada – de criar ambiente.
Ainda que seja um romance bem delineado e vivamente aconselhado a quem gosta de uma narrativa que tem na memória e nos regressos ao passado poderosos aliados, “Amores Secretos” é demasiado extenso (cerca de 550 páginas) e, em alguns momentos, algo inconsequente.
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