Desde que Tolkien (praticamente) inventou a fantasia e J. K. Rowling a tornou popular com a criação do mítico Harry Potter, as sagas de fantasia tendem a nascer nas livrarias como cogumelos impressos. E, como numa visita a um mercado, há que saber escolher bem de modo a evitar que, quando se descasquem as maçãs ou as pêras compradas com despreocupação, não saia de lá um bicho da fruta. “A primeira regra dos feiticeiros” (Porto Editora, 2014), livro que dá início à saga A espada da verdade, é uma daquelas peças vitamínicas que traz consigo um pequeno autocolante onde se lê qualquer coisa como “produto certificado”.
A narrativa está centrada em Richard Cypher, um jovem guia de Hartland que, depois do assassinato brutal de seu pai – um coleccionador de objectos -, continua à procura de respostas. Ao contrário de Michael, o irmão, que desprezava o pai e esqueceu rapidamente o assunto, pronto para se tornar Primeiro Conselheiro: o responsável pelo destino não só de Hartland, mas de todas as cidades, vilas e aldeias da Terra Ocidental.
Richard passou a maior parte da sua vida na floresta, conhecendo todas as plantas pelo nome ou pelo aspecto. Será num desses passeios que avistará uma mulher misteriosa que dá pelo nome de Kahlan Amnell, a quem ajudará a livrar-se de um grupo de perseguidores. Kahlan diz ter vindo da Terra Central, cruzando assim a barreira intransponível erguida à volta da Terra Ocidental, criada muitos anos antes de Richard nascer e que a separa tanto da Terra ocidental como de D’Hara, a terra do temível Darken Rahl, praticante da mais temível magia negra.
Darhen Rahl tem conseguido diminuir a força das fronteiras, e são já muitos os emissários negros que têm conseguido atravessá-las para espalharem o terror e o caos. Rahl activou a magia das três caixas de Orden – apesar de apenas ter duas delas na sua posse -, e apenas um Grande Feiticeiro poderá impedi-lo de implantar um regime déspota. Precisamente o mesmo feiticeiro que ajudou a construir as fronteiras mas que, quando percebeu que tinham subvertido os princípios pelos quais havia lutado, desapareceu subitamente. É esse o feiticeiro que Kahlan procura, numa demanda pela qual dará a vida se tal for necessário.
No meio de tanta magia e poder Richard parece ter destinado um papel secundário, até que a amizade insuspeita de uma vida inteira o aponta como sendo um seeker, alguém que detém nas suas mãos o destino das três nações, o portador da Espada da Verdade com uma missão (imposta) a cumprir.
Para além de situações inesperadas e personagens apaixonantes, ingredientes obrigatórios no mundo do fantástico, Terry Goodkind envolve o leitor de forma intelectual e emocional, fazendo-o pensar em questões como a paixão, o amor e a raiva, afinal, um dos mais imperfeitos triângulos que alimenta a alma humana desde o princípio dos tempos.
O segundo volume da saga está também disponível nas livrarias.
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