“A palavra perdida” | Inês Fonseca Santos

O Manuel gosta de andar pela rua com palavras nos bolsos, achando-as mais úteis do que as chaves de casa ou as moedas para pagar uma bica, o parquímetro ou pedir desejos na fonte. O Manuel acredita especialmente nas palavras, até na que perdeu naquele dia.

“A Palavra Perdida” (Arranha-Céus, 2014) é o arranque da editora Arranha-Céus no sector infantojuvenil e a grande estreia da jornalista Inês Fonseca Santos na escrita para pequenos leitores. Nesta história o Manuel, os primos e os leitores juntam-se em busca de uma palavra que se perdeu. Mesmo sem saberem que palavra é, que letras tem, que sentidos guarda… todos procuram na rua, no ar e em casa, esvaziando também os bolsos e remexendo até dentro dos próprios nomes e dos jogos de palavras cruzadas. A palavra que o Manuel perdeu tornara-lhe as frases incompletas e esgotara-lhe as conversas. Para além dos nomes dos primos, o Manuel tem ainda poucas palavras e sofre com a falta que aquela que perdeu lhe faz.

O livro é uma junção feliz entre o texto de Inês Fonseca Santos e a ilustração de Marta Madureira. Folheando e repetindo, página a página, vive-se uma ligação una entre os elementos da obra, num ritmo poético que vai para além das palavras para rimar com as imagens. No fundo, o abstrato das ilustrações, lembrando peças de um puzzle que somos impelidos a montar, acompanha a par e passo a narrativa, onde a importância das palavras e a descoberta da linguagem convivem num jogo de desafios e mistérios.

Os números dispersos de forma aleatória ao longo das páginas, dispostos estrategicamente junto a letras isoladas que compõem as ilustrações, são a chave para deslindar toda a intriga e para identificar até a palavra que o Manuel perdeu.

Antes que se possa chamar “palavra” todo o conjunto de letras tem um significado. Nomeia as coisas, as pessoas e os lugares, torna-os mais do que um som, um apelo. Faz cada um único e suscetível de ser partilhado com o Manuel, com os primos, com os amigos e com todos os que guardam nos bolsos, entre moedas e a chave de casa, uma ou outra palavra.