Numa obra desconcertante, o propósito e significado das palavras não são deixados ao acaso. Em “A mulher louca” (Planeta, 2014), o espanhol Juan Jose Millás (n. 1946) obriga o leitor a ficar preso às suas páginas, sob pena de, à mínima distracção, perder o fio condutor da obra.
Atribuindo a si mesmo uma das personagens centrais do livro, Millás irá conhecer Julia, uma funcionária de uma peixaria que estuda gramática à noite e é constantemente visitada por seres estranhos que, sem pedir licença, lhe invadem a cabeça.
Julia irá viver com Serafin e Emerita, mulher que em breve irá pôr fim à sua própria vida aproveitando a benesse da eutanásia, não deixando de ser curioso que seja um romance vindo de Espanha a abordar este tema com tamanha naturalidade. Caberá a Millás abraçar o fim de vida de Emerita e, sobre o tema, projectar uma reportagem. Porém, a tarefa perturba a sanidade de Millás que, em sessões de terapia, é confrontado com a materialização de um ser idêntico a si e que observa todos os seus gestos escutando os seus anseios. Estas perturbações vão-se adensando à medida que Emerita partilha com Millás as peripécias da sua vida, cujo fim se aproxima.
Sem possuir uma composição escrita meticulosa, “A Mulher Louca” não deixa de ser um romance que irá captar a atenção do leitor, sobretudo com base na forma invulgar com que a narrativa discorre, um misto de surrealismo com uma sequência de episódios insólitos.
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