Southampton, «terra estranha e perturbante». É neste cenário bem britânico, acompanhado pela descoberta de uma jovem mulher na mala de um carro abandonado, que tem início “À Morte Ninguém Escapa” (Topseller, 2015), a segunda aventura literária de M. J. Arlidge que, na primeira – com “Um, Dó, Li, Tá” -, havia conduzido muito bom leitor uma lavagem de estômago
Desenganem-se, porém, aqueles que pensam que Arlidge decidiu refrear os ânimos. Em “À Morte Ninguém Escapa” há dentes partidos, mãos decepadas e, preparem-se, corações arrancados que, como assinatura de um serial killer, são deixados à porta de casa ou no trabalho da família das vítimas.
A investigação daquele que parece ser um caso isolado, de um corpo encontrado num prédio abandonado que vai servindo para a prática das artes da prostituição, é para a detective Helen Grace o primeiro acto de um assassino em série. Com o sargento-detective Tony Bridges a liderar a caça ao homem Helen vai tentando passar ao largo dos media, um ano após ter posto fim a uma vaga de assassínios que implicou ter morto, a tiro, a própria irmã. No presente, mantém um segredo que tem tudo para deixar de o ser.
Helen é a grande alma do livro, alguém que tem até o próprio nome envolto numa invenção, que recorre a práticas sado-masoquistas para enfrentar um acontecimento que, por muito que tente, parece permanecer eternamente desarrumado nas gavetas da sua memória. O castigo aparece-lhe, assim, como a sua (muito) própria salvação.
À medida que tenta chegar perto do assassino em série, Helen terá de enfrentar Ceri Harwood, a nova detective-superintendente, uma mulher «tranquila, uma comunicadora nata e sem um pingo de sentido de humor»; mas também Emilia Garanita, repórter principal de crime do Southampton Evening News, uma destemida repórter com um dos lados da cara queimado por ácido, que não se importa de perder escrúpulos para dar o salto para uma publicação nacional.
Mais um thriller imparável, tenso e sombrio de M. J. Arlidge que, com Helen Bridges, criou uma nova e surpreendente heroína no fascinantemundo dos policiais.
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