Já começa a ser repetitivo mas há que dizê-lo de novo. O Círculo de Leitores, que tem por hábito lançar colecções fora de série, decidiu repetir a gracinha, desta vez com o lançamento da História do Corpo que, em seis volumes, procurará mostrar a história do Homem e do seu corpo ao longo dos séculos. Ao olhar o corpo propõe-se olhar o quotidiano das pessoas: como vivem, como lidam com a doença, os valores que as orientam, a importância da religião e o impacto da ciência nas suas vidas.
O projecto foi concretizado por uma equipa internacional de 25 especialistas destacando-se, de entre eles, três nomes: Jean-Jacques Courtine, professor de antropologia cultural na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III, isto depois de 15 anos a dar aulas nos EUA, onde publicou numeroso trabalhos de linguística e análise do discurso; Alain Corbin, professor emérito de história do século XIX na Universidade de Paris, bem como membro do do Instituto Universitário de França, com várias obras publicadas; Georges Vigarello, director de estudos na École des Hautes Études en Sciences Sociales e membro do Instituto Universitário de França, autor de diversos trabalhos sobre as representações do corpo.
Em “Do Renascimento ao Iluminismo – 1”, o primeiro volume da colecção, navegamos entre duas ideias: a do corpo sagrado, a medida de todas as coisas, molde a partir do qual o homem foi criado à imagem de Deus, o corpo de Cristo que alimenta o espírito e a alma; mas, também, o corpo do homem comum, lugar de pecado e culpa, numa época em que a sexualidade era vigiada (e criticada) de muito perto.
Com a chegada do Renascimento assiste-se à emergência do corpo “moderno”, livre da influência dos astros, das forças ocultas e dos amuletos, que passa a ser um motivo de grande interesse por parte da ciência – ainda que estejam longe de desaparecer as referências sagradas. Afinal, o sagrado e a Igreja dominam, por essa altura, comportamentos, gestos e até pensamentos.
Com a necessidade – ou imposição – de reprimir as pulsões e os desejos humanos dá-se início a um processo que implica alterações de grande monta, como no controlo estabelecido pelas normas sociais ou o auto-domínio necessário no universo da intimidade. Assiste-se, ainda assim, a um conflito cultural entre o corpo autónomo e individual e as imposições colectivas, sejam elas políticas, religiosas ou sociais.
Num período da história em que o corpo parece caminhar para a replicação e a virtualidade, abolindo as fronteiras entre os territórios do que é orgânico e aquilo que é mecânico, a História do Corpo representa uma oportunidade imperdível de olhar a história do corpo ao longo dos séculos e, com isso, conhecer os limites físicos do ser humano.
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